Foi do nada, sem aviso, sem um sinal que me preparasse para o que viria. Levantei para pegar um café e, na volta, ele estava desacordado.
Inanimado.
Apagadinho da Silva.
Meu notebook tinha dado os doces. Não reagia às tentativas de ligar, nem às minhas lágrimas. Preces não fiz, porque Deus não é técnico de TI, tem coisas bem mais sérias e urgentes com o que se preocupar.
Quem já passou por isso conhece bem a sensação de desamparo. De uma hora para outra, acaba-se o passado e, pior, o futuro da gente. O notebook nunca estraga naquele fim de semana em que o único compromisso é vadiar. Nunca.
Regra da vida: o notebook sempre vai estragar em dia de entrega de texto. E quando as tuas editoras (alô, Renata e Mary) enfim se dão conta de que o tal texto vai atrasar mais do que o normal, o problema, que era teu, passa a ser delas também.
A página está quase baixando.
A que horas a coluna chega?
Não dá para esperar mais.
Outra particularidade dos notebooks é que eles sempre pifam quando o profissional que te atende está de férias, ou em lua de mel, ou incomunicável, sabe-se lá fazendo o quê. Por isso mesmo, ele não atende o celular e as mensagens do zap permanecem miseravelmente intocadas, sem os dois risquinhos azuis que poderiam trazer um pingo de esperança para uma alma em desassossego.
O meu técnico é tão maravilhoso que foi morar em Florianópolis e eu continuei com ele. Atende a família inteira, faz uns paranauês de longe e pá-pum, resolve atualizações, instalações e outros problemas terminados em ões, não com passe e descarrego, mas com um desses programas de acesso remoto que facilitam muito a vida do cliente. Eu sinceramente acreditava que ele daria jeito no meu notebook desmaiado.
Só que o Diego, esse é o nome do meu técnico, não respondia minhas mensagens. Devia estar de férias, ou em lua de mel, ou incomunicável, sabe-se lá fazendo o quê. Então peguei o corpinho desfalecido do notebook com todo o cuidado e me toquei para uma assistência técnica autorizada. Socorro rápido era tudo o que eu queria.
Ao botar os olhos no meu estimado MacBook, o rapaz da autorizada não disfarçou o mal-estar. Nojo é uma palavra pesada, mas acho que nojinho cabe bem aqui.
— Assistência para isso? Impossível. Esse notebook é obsoleto.
Obsoleto. Sem ligar para a minha dor, o jovem atendente da autorizada cravou o status do meu querido Mac, companheiro de escritos relativamente bem-sucedidos e de tantos outros fracassos: obsoleto. A Apple só presta assistência para máquinas com até cinco anos, ele disse, sem nem me olhar na cara.
Aposto que passou álcool na bancada quando eu e meu notebook saímos, não por medo de covid, mas para apagar qualquer vestígio de nossas presenças obsoletas naquele templo de inovação.
Quando tudo parecia perdido, eis que o Diego respondeu minhas mensagens. Corri para casa, mas o Mac em estado de coma não permitia o acesso remoto das outras vezes. De longe mesmo, ele fez o diagnóstico: deve ser HD. Leva no Mário.
Ah, o Mário. Mora longe, o vivente, lá no bairro Ponta Grossa. Igor, meu motoboy que não falha, sensível à minha voz embargada, apareceu em cinco minutos para fazer o traslado do corpo do Centro Histórico para os confins da Zona Sul. Juro: em menos de uma hora, o Mário mandou um vídeo do computador funcionando.
Foi só trocar o HD pelo SSD que o Diego já havia instalado, fazer uma bela limpeza, e pronto. Sabe em que notebook estou trabalhando agora? No próprio, o obsoleto.
Tudo está bem quando acaba bem. Precisando dos contatos do Diego, do Mário e do Igor, é só escrever para o e-mail lá de cima da página que eu passo. Não é publieditorial, é utilidade pública mesmo.
Se entreguei a coluna no prazo nessa semana? Claro que não. Ao recebê-la atrasada mais uma vez, as editoras tiveram a certeza que faltava. O problema não é o notebook estragado dela – que, aliás, está um aço, adjetivo dos mais obsoletos para qualificar uma potência.
Mais obsoleto que isso, só dizer que alguma coisa ou alguém está a todo o vapor. O problema, as editoras tiveram certeza, é a pecinha na frente do Mac.
É a nossa colunista.