Ó, quanto riso, ó, quanta alegria. Coisa bem estranha que foi esse Carnaval fora de época, e isso não é uma crítica, é só um pensamento. Uma alegria inventada — de resto, como o próprio Carnaval. A diferença é que, no Carnaval oficial, a gente já sabe que deve ficar extremamente animado de sexta-feira até quarta ao meio-dia. Nesse de agora, plantado no meio dos dias úteis, como chegar felizão ao escritório, cantando alalaô entre um pepino e outro? Pior: como resolver as demandas do trabalho no meio do bloquinho?
Sim, chefe, envio o relatório assim que a Banda Eva passar.
Vou tocar meu agogô e já encaminho sua solicitação.
Um momento que lhe atendo tão logo eu termine meu corote.
Foi bom te ver outra vez, tá fazendo um ano, foi no Carnaval que passou.
Na verdade, foram dois anos. E depois do Carnaval de 2020 é que a porca torceu o rabo de verdade, com o aumento dos casos de covid e toda a desgraça que se abateu sobre o país. Para quem tem espírito de folião, dá para entender essa sede de Carnaval. Tinha muita tristeza para ser esquecida. Dessa vez, pessoal sambou com as três doses de vacina no braço, muito melhor que fantasia. Dá até para apostar que vai ter Carnaval no ano que vem, e na data oficial. Só tomara que com menos gente dormindo e passando fome nas avenidas.
Eu quero matar a saudade.
De tudo o que dominou o noticiário no Carnaval, e vou deixar a concessão da desgraça presidencial fora disso, nada se compara ao caso da rainha e da princesa da escola Paraíso do Tuiuti. Foi quase um recorte do Brasil desses nossos dias. Embora a Mayara, mulher da comunidade, tivesse muito mais majestade, foi uma loira sem samba no pé quem — supostamente — comprou o lugar de rainha da bateria.
As redes sociais não perdoaram. A rainha loira chegou a tirar seus perfis do ar, ela que é apresentadora de algum programa de TV e já foi candidata à prefeita da cidade de Mesquita, na Baixada Fluminense, com o apoio do atual presidente.
Mas a melhor parte vem agora.
Na noite do desfile, desconfiada de que pudesse sofrer algum boicote, a rainha recebeu suas sandálias lacradas e ainda levou pares sobressalentes, para qualquer eventualidade. Já a princesa Mayara, em plena evolução, viu seu biquíni arrebentar, e bem diante dos jurados. Se fosse ficção, a gente diria que uma sabotagem dessas seria um recurso óbvio demais. Mas é a vida, e a vida permite obviedades obscenas. Longe de mim insinuar qualquer coisa.
Vou beijar-te agora, não me leve a mal.
Aí também não. Beijo, só consentido. Além do quê, não é mais Carnaval, estamos já no 1º de maio, vulgo Dia do Trabalho. Acabou-se a ilusão, ainda mais essa, tão fora de época. Vamos em frente que, diferentemente da folia, nem tudo tem segunda chance.
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Falando nisso, o prazo para tirar o primeiro título de eleitor pela internet encerra no dia 4 de maio. Em caso de dúvida, é só entrar aqui: gzh.rs/PrimeiroTítulo.