A filha de um grande amigo se chama Esperança. Os dois não moram na mesma cidade, mas volta e meia o pai a convida para passar alguns dias com ele. Esperança só não vai se estiver ocupada com seus inúmeros trabalhos. Do contrário, ela nunca falta.
Esperança sempre na linha. Deve ser bom isso.
A cachorrinha de um casal de amigos também tem o nome de Esperança. Na casa deles, a Esperança corre livre pelo pátio ou anda macia pelos tapetes e sofás. Não há visita que não faça questão de passar um tempinho brincando com ela.
Esperança pela casa inteira. Deve ser bom isso.
Curioso é um canário que também se chama, adivinhe, Esperança.
É um ser do sexo masculino, mas seu dono considera que esse nome não é propriedade de um gênero só. O Esperança é animadíssimo, canta o dia todo e, desde que começou o horário de verão, canta de noite também. Às vezes, é preciso até fechar a porta da cozinha, onde o Esperança vive, senão ninguém dorme.
Esperança 24 horas. Deve ser bom isso.
Trocadilhos à parte, nada como nunca perder a esperança de vista. Lembro de, uma vez, ouvir meu avô dizer a alguém que lhe confessou seus problemas: “Mesmo quando chove, o sol continua brilhando acima das nuvens”. Eu era pequena, brincava na sala prestando atenção na conversa dos adultos, e não acreditei nele. Só já adolescente, embarcando em um voo abaixo de chuva, comprovei que havia sol bem lá no alto. O que esse caso mostra? Que eu era uma criança ignorante. E que devia ter tirado a dúvida com a professora ou com a minha mãe para não passar tantos anos nas trevas – literalmente. Se for uma parábola talvez indique que, mesmo havendo uma esperança no horizonte, é melhor confiar desconfiando. Para não ficar parado, só no aguardo dos acontecimentos.
A esperança é escorregadia. Por um nada vai embora e deixa um quê de amargura. A minha é assim. A cada percalço, e 2018 foi um ano de percalços, a sensação de ter sido enganada por ela. Puxa, mas já estava tudo certo. Puxa, mas eu contava com isso. Puxa, mas que baita sacanagem. A esperança se parece com um ansiolítico ou um antidepressivo, um recurso para se viver melhor. Sem esperança as coisas são bem mais difíceis. Mas não se pode deixar tudo por conta dela, tem que ir atrás também.
Não se tornar dependente do que talvez-quem sabe-quiçá-porventura possa ser.
Ainda assim, e mesmo com alguns sinais não muito animadores, não há como começar um novo ano sem dar um trato na esperança. Fazer alguns exercícios para fortalecê-la, pensar em movimentos diferentes, algum plano ou estratégia. Mesmo os céticos, e eles são muitos, nem que seja na virada de 31 para o dia 1º, acabam deixando uma esperançazinha aparecer. É isso que nos faz humanos, no fim das contas.
De minha parte, já decidi. Na impossibilidade momentânea de adotar meu futuro filho ou filha, e mesmo de ter um bichinho – em todas as hipóteses, o nome será Esperança –, vou plantar dente-de-leão em casa em 2019. É que descobri que, no Nordeste, essa flor se chama Esperança, e as pessoas costumam dizer: “Abre as janelas e deixa a esperança entrar na tua casa trazida pelo vento da tarde”. Achei bonito e é o que desejo para todos nós.
Feliz 2019.
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