Que o Brasil e brasileiros sabem como festejar não há nenhuma dúvida, né? Mas não necessariamente a festança precisa ser grande. Ela pode acontecer com poucas pessoas em volta de uma mesa, a famosa botecagem. Cada região e cada bar tem seu jeitinho de botecar. Mas todas as variações envolvem, invariavelmente, porções para dividir e bebidas. Por mais que essa descrição me baste, estive pensando, da onde veio? Será que “herdamos” esse costume?
O Rio de Janeiro é praticamente a capital mundial de botecagem. O dia-a-dia aqui envolve ser silenciosamente assediado pelos bares e tentar permanecer imune. Com tantos lugares para petiscar e beber, quando vivo uma experiência autêntica em um, me sinto obrigada a compartilhar com vocês. Então, vou contar como foi minha visita ao Entretapas Ipanema.
Um casarão de dois andares se destaca através das luzes e vermelho-paixão das paredes internas exibidas pela janela e anunciam os milhões de encantos por m² a seguir. Em um primeiro olhar, vizinho à silhueta de um touro imponente, a convidativa varanda daquelas que só falta a placa “sou perfeita para o pós-praia” já te faz começar a planejar o fim de semana para ficar uma tarde toda vendo o movimento descontraído de Ipanema, descobrindo o que essa mistura ibérico-carioca oferece.
O Entretapas Ipanema é o irmão mais novo da unidade de Botafogo. O primogênito tem um ambiente mais intimista. Esse segundo filho tem um ar mais despojado, mas sem deixar a elegância e conceito de lado. Um manifesto emocionante reflete a essência apaixonada por trás disso tudo. O local tem, desde a alma, essa paixão. Um bar enorme, itens cheios de cor e humor exclusivos a esse sentimento nos fazem ao mesmo tempo sorrir e entrar no clima. Aliás, muito didático. Não se preocupe se você ainda está se familiarizando com o universo de tapas, uma placa “traduz” e ilustra os principais termos.
Fiquei muito envolvida. Antes de me sentar, decidi caminhar pela casa, entender melhor cada pedacinho desse amor. O andar de baixo propõe descontração e tem a opção para mesas altas, tipo bistrô, daquelas que a gente tem vontade de juntar todos os amigos e adentrar a madrugada. Uma composição de lâmpadas autoriza o clima notívago propondo a MOVIDA CARIOCA, referenciando a Movida Madrileña, onde a juventude agitou as noites da cidade nos anos 80 e trouxe reflexos artísticos, políticos e sociais, transformando o cenário da capital espanhola.
Uma parede inteira coberta por lambe-lambes exclusivos da casa, com ilustrações de “San” Gaudi”, azeite, temperos e drinks intercalam imagens com a palavra RIO exibem mais desse amor miscigenado com muito espirituosidade.
Subi as escadas para conhecer o andar superior. Tem mais cara de restaurante. Mesas baixas, uma adega vertical toda trabalhada na elegância e um lustre imenso que parecem estrelas do céu sugerem uma ocasião mais íntima, em casal ou uma reunião de família. Para um encontro à dois, indico: comecem no primeiro andar com os tapas e subam para pratos principais. Os dois ambientes são mágicos, mas me acomodei nas macias cadeiras do primeiro andar. Depois dessa expedição, fiquei com mais fome ainda. O debochado jogo americano entregou o pecado da noite.
O cardápio cheio delícias do chef Jan Santos (praticamente um mestre-sala de tão brasileiro!) me colocou naquele dilema provocador. Sou de destilados, vocês sabem bem, não resisto a uma caninha. Mas naquele ambiente com a música envolvente fui rendida e pedi uma sangria pra ajudar na minha decisão do que comer. Adorei aquele drink extremamente equilibrado, nada enjoativo. Era possível sentir cada pedacinho da fruta encharcada do vinho de qualidade. Junto com ele veio a novidade do ano, durante o happy hour, os drinks são double!
Depois de alguns goles pedi as croquetas de jamon. Famoso tapa espanhol, apresentados lindamente em uma prancha de pedra. Uma aperitivo recheado com um molho branco cremoso com pequeninos pedaços de jamon delicadamente salpicados que revelavam um salgadinho na mordiscada daquele bolinho de casquinha fina e crocante.
Ainda empenhada na tarefa “dieta pra amanhã”, me permiti mais um tapa, o ajo branco. Uma sopa fria que apresentou suavemente o gosto do alho, com acidez balanceada e as criminosas uvas finamente fatiadas sobre o tapa traziam pontos adocidados. Delirantemente saboroso.
Foi quando meus olhos vidraram no tapa panceta lacada com cremoso de queso. Entrei em transe. Lembro brevemente de ter enxugado a saliva naqueles segundos de leitura e ao que tudo indica, eu pedi o prato. Pois dois pedações de barriga brilhando chegaram, numa caminhada em câmera lenta, com direito a música de fundo. Ao provar fui para um mundo mágico. O defumado cheio de suculência salgadinha explodia enquanto mastigava aquela carne supermacia. A camada doce do laqueado contrastava com o toque seco do creme de queijo sobre qual essas belezuras estavam dispostas.
Não tenho certeza se foram os primeiros espanhóis que chegaram aqui com seus maravilhosos tapas e drinks coletivos que influenciaram como os bares do Brasil são hoje. Sei que o Entretapas Ipanema representa a fusão desse conceito tão bem e com alma tão brasileira que se, enquanto estiver me maravilhando por lá, me perguntarem sobre isso, respondo que SIM!
Você também pode se permitir a dúvida (ou a certeza) por R$ 88,10 e se acabar em tapas e (double) drinks.
Rua Farm de Amoedo, 52, Ipanema
Fone: (21) 3796-4591
Rio de Janeiro/RJ
Aceita todos os cartões
* Conteúdo produzido por Isadora Bello Fornari