Novela não é apenas entretenimento, serve também como espelho ou crítica da realidade. Até mesmo tramas de época podem tocar em feridas profundas da nossa sociedade e, com isso, nos fazerem refletir.
Desde sua estreia, na semana passada, Garota do Momento empolgou com personagens cativantes, ótima trilha sonora e uma reconstrução perfeita da atmosfera dos anos 1950. Para além das moçoilas sonhadoras e vilões ardilosos, a trama de Alessandra Poggi mostra que algumas questões podem e devem ser discutidas na telinha, não importando se a história se passa nos dias atuais ou há algumas décadas. Afinal, alguns temas são atemporais. O racismo, infelizmente, é um deles.
Na sequência exibida entre sábado (9) e segunda-feira (11), Beatriz (Duda Santos) foi à inauguração da nova loja da família de Maristela (Lilia Cabral). A jovem tinha esperança de encontrar a mãe, Clarice (Carol Castro), mas o que aconteceu foi um show de horrores. Beatriz foi acusada por Juliano (Fábio Assunção) de ter furtado um sabonete, e ele chegou a mandar os seguranças revistarem a moça. Humilhada e indignada, a mocinha enfrentou o ricaço e o acusou de racismo. Diante dos jornalistas presentes, bradou:
— Podem fotografar! Podem publicar! O que aconteceu aqui hoje foi mais um exemplo de como nós negros somos tratados por essa sociedade preconceituosa! E é uma vergonha que a justiça não faça valer a lei Afonso Arinos! Porque se fizesse... Esse homem pagaria pelo que fez! Tá na lei! Racista! Eu tenho ódio de gente feito você!
A lei a que a personagem se refere foi aprovada pelo Congresso Nacional em 1951, e previa punição a quem cometesse discriminação racial. No entanto, como disse Beatriz, a legislação era falha e, na prática, raramente punia os criminosos. A primeira pessoa a fazer uso da lei no país foi a jornalista Gloria Maria (1949-2023), que em 1970 foi proibida de entrar pela porta da frente de um hotel no Rio de Janeiro.
Na novela, Beatriz recebeu o apoio de Beto (Pedro Novaes), mas deixou bem claro que o amado jamais teria noção do que é sentir na pele a dor do racismo. Apesar de se passar em 1958, a trama mostra situações que ocorrem até hoje. As punições, ao menos na teoria, são mais severas atualmente, mas o preconceito racial continua sendo uma das grandes vergonhas do Brasil.
No Instagram, Duda Santos compartilhou um trecho da cena e ressaltou a importância da abordagem na novela:
" A cena nos lembra do impacto do racismo, mas ao ver tantos personagens negros também nos lembra da força da representatividade que não apenas enriquece a narrativa da televisão brasileira, mas também fortalece a autoestima e o senso de pertencimento de milhões de pessoas."