Na reta final de Quanto Mais Vida, Melhor!, o público já começa a sentir saudade dos personagens que movimentaram a trama. E por falar em movimento, nenhum lugar teve tanta ação e confusões como a boate Pulp Fiction. É lá que reina Chefe, personagem de Alessandro Brandão. Nos capítulos mais recentes, a personagem ganhou espaço, conquistou o coração do ex-marrento Trombada (Marcelo Flores) e já tem seu desfecho feliz garantido. Em entrevista por e-mail, o ator conta como se surpreendeu positivamente com o retorno do público e ressalta a importância da diversidade – tanto na vida real como na ficção.
Como surgiu o convite para a novela?
Quando eu fui chamado para fazer essa personagem ela não era uma drag queen ainda, era um sujeito grosseiro e parceiro do Roni (Felipe Abib), do Conrado (Alex Nader) e do Tucão (Renato Livera). Mas aí o Mauro (Wilson, autor da novela) assistiu ao filme Berenice Procura que o Allan Fiterman dirigiu, onde eu interpreto a drag Paolla. Aí ele adorou e tudo mudou. O Mauro conheceu mais o meu trabalho como drag (como a Nina da dupla Sara e Nina) e pronto, me chamaram e falaram: "olha, o Chefe virou a Chefe". O que eu adorei!
Você esperava a boa repercussão do público com sua personagem?
Não, eu imaginei que as pessoas iam se incomodar, que iam encher minhas redes sociais com comentários terríveis, mas eu nunca recebi um comentário sequer de desaprovação. As pessoas são muito carinhosas com a Chefe. E isso me deixou surpreso e feliz, afinal, vivemos em um país onde é muito perigoso ser LGBTQIA+. Somos o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. E ver o público se envolvendo com a história dela, torcendo, vibrando de maneira amorosa e positiva, sem questionamentos, traz uma esperança de que dias melhores estão próximos.
Nessa reta final, há uma grande torcida para Chefe e Trombada. Você se surpreendeu com esse casal?
Sim, realmente é uma história de um casal surpreendente. Eu não imaginei em momento algum. Um cara meio machão, técnico de futebol, namorar uma drag queen... É um romance tão leve, tô apaixonado. Essa novela foi inteiramente gravada durante o período mais difícil da pandemia, e não tínhamos a menor ideia de como o público receberia a trama. Mas eu sempre achei importante esse romance e a forma com que ele surgiu na novela, leve, sem dificuldades, as outras personagens respeitam, acolhem. Ninguém se assusta ou se incomoda, não tem drama sobre o encontro deles. E, assim como na novela, o público acolheu, e torce por eles. Recebo mensagens carinhosas nas redes e nas ruas. Isso me deixa muito feliz.
É cada vez maior a diversidade presente nas novelas. Como você analisa isso? Acha que ainda podemos avançar mais nesse ponto?
As novelas retratam a vida cotidiana do brasileiro, portanto, a diversidade precisa estar também dentro da trama. Afinal, somos uma grande parcela da população e estamos aí, na luta diária. Mas as tramas precisam abordar as narrativas LGBTQIA+ de forma positiva também, e, assim, ajudar a mudar o olhar da sociedade binária e cisheteronormativa. Eu acredito, sim, que temos muito a avançar e conquistar, e manter o que já conquistamos.