Apesar das tensões e da separação que se avizinhava, os Beatles foram capazes de criar e se divertir até o fim: com seu novo documentário, Peter Jackson dissipa os mitos sobre os quatro "fabulosos" de Liverpool e oferece um olhar positivo sobre os seus últimos momentos de intimidade.
The Beatles: Get Back segue John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr em janeiro de 1969, preparando-se para seu primeiro show em mais de dois anos. Os Beatles estavam, então, envolvidos na composição e gravação de 14 novas canções para a ocasião, mas só tinham três semanas para fazê-lo, um prazo que parecia impossível de cumprir.
Estes momentos intensos e difíceis foram imortalizados naquele momento pelo diretor britânico Michael Lindsay-Hogg. As imagens resultaram no filme Let It Be, de 1970, ano em que os Beatles formalizaram sua separação. Este documentário insistiu nas tensões entre os quatro artistas, suas disputas e desavenças criativas, marcando de forma duradoura a memória dos fãs.
Admirador dos Beatles, o diretor ganhador do Oscar Peter Jackson (da trilogia O Senhor dos Anéis) queria ir além desta visão negativa de um grupo ressentido e perto do fim.
— De qualquer forma, o melhor de nós sempre foi e sempre será quando estivemos contra a parede — diz Paul McCartney em The Beatles: Get Back, que será exibido a partir desta quinta-feira (25) na plataforma em streaming Disney+. A segunda e terceira partes do material serão lançadas na sexta-feira (26) e sábado (27).
A trilogia também mostra pela primeira vez na íntegra o show de 40 minutos dado pelos Beatles no terraço do edifício de sua gravadora em Savile Row, no coração de Londres. Aquela foi a última apresentação do grupo em público.
Para desenterrar essas pérolas, que encantarão os fãs e entusiastas da banda, Peter Jackson mergulhou em 60 horas de arquivos de vídeo, que tinham permanecido trancados durante este tempo e assinou uma série documental que enfatiza a cumplicidade e alegria de viver dos Beatles.
— Sempre houve a ideia equivocada de que o meu pai foi o responsável pelo rompimento dos Beatles, mas não foi assim e pode-se ver claramente nas imagens — diz Stella McCartney, filha de Paul.
— Aparece tentando desesperadamente que funcionasse, que sua irmandade se mantivesse intacta — acrescenta a estilista, destacando que Paul McCartney "ficou inconsolável" após a separação.
"Movimento cultural" mundial
Stella McCartney, que lançou uma coleção limitada de roupas inspirada na estética da banda durante aquele momento de suas vidas, diz que viu a nova trilogia documental como uma filha dos Beatles, mas também como uma fã.
— Você olha e diz: "Essa é a melhor banda do mundo, a melhor música, estas são as pessoas mais cool" (...) Há muito poucos momentos na história que podem se comparar — avalia.
Para ela, os Beatles simplesmente "encarnaram um movimento cultural por uma mudança positiva que continua influenciando milhões de pessoas em todo o mundo".
— "Tudo o que você precisa é de amor", "Unam-se" (estrofes de músicas dos Beatles)... É sua música, são suas letras — enumera.
Ela também enfatiza o impacto que os Fab Four tiveram na moda ao longo de suas carreiras.
— Quando vejo os Beatles, sempre me surpreende a quantidade de estilos que se viraram para exibir em tão pouco tempo, com momentos icônicos. Se você pega o (álbum) Sargent Pepper's, sabe exatamente o que vestiam naquele momento — explica Stella McCartney.
Muito engajada com a proteção ao meio ambiente, a estilista, cuja marca atrai amantes da moda, modistas e celebridades, espera que a coleção inspirada em Get Back continue sendo tão atemporal quanto os Beatles.