A plataforma de streaming Globoplay lançou, na quinta-feira (8), um episódio extra de O Caso Evandro, série documental que acompanha a investigação do assassinato de uma criança em 1992, no Paraná. O capítulo Consequências aborda os desdobramentos da série e conta, pela primeira vez, com um depoimento de Osvaldo Marcineiro, um dos condenados pelo crime.
"É algo que muita gente espera há 29 anos. O relato é inédito, muito bonito e emocionante", disse Aly Muritiba, diretor da série, em comunicado da plataforma de streaming.
Osvaldo não aceitou participar dos primeiros episódios da série e vivia recluso desde que deixou a prisão. O pai de santo e os outros seis acusados tiveram de lidar com o estigma de serem autores de um ritual macabro com a criança, hipótese acolhida pelo júri.
"Ele nunca assumiu o nome dele nas redes sociais, nesses anos todos usou um pseudônimo. O Osvaldo tinha um bloqueio e diz que, com a série, surgiram pessoas boas no mundo, que se solidarizaram com ele", explicou a também diretora Michelle Chevrand.
A entrevista de Osvaldo também ganhou um episódio especial do podcast Projeto Humanos, produzido por Ivan Mizanzuk. "Ele foi tão atacado por ser pai de santo e agora vai poder falar disso abertamente, poder falar dessa prática e dessa vida. Ele também vai falar do tempo dele na prisão, como foi tratado pelos outros presos. Acho que a conversa vai render uma reflexão importante para a sociedade", opinou Mizanzuk.
Outros depoimentos
Outra novidade do episódio extra é a participação de Alex Rosa, uma das crianças desaparecidas nos anos 90 que se reconheceu na série e procurou Ivan Mizanzuk para dar o seu relato. "O que eu achei mais surpreendente dessa história foi quando ele (Alex) veio falar comigo e começou a me contar tudo. Repassei essas informações à delegada do SICRIDE, Delegacia de Crianças Aparecidas de Curitiba. Lá, eles tinham detalhes que podem ajudar a jogar uma luz sobre outros casos da época", explica o autor do podcast.
O capítulo também conta com uma entrevista inédita de Roberto Requião, governador do Paraná na época do crime envolvendo o menino Evandro, que, pela primeira vez, aceitou falar sobre o caso.
Relembre o caso
Evandro tinha seis anos e desapareceu em abril de 1992 em Guaratuba (PR). Dias depois, o corpo dele foi encontrado em um matagal sem alguns órgãos e com pés e mãos cortadas. Segundo Celina e Beatriz Abagge, esposa e filha do então prefeito da cidade, que teriam encomendado um ritual religioso com o corpo, elas foram torturadas pela Polícia Militar para confessar o crime. As duas foram incriminadas juntamente com dois pais de santo (incluindo Osvaldo) e um ajudante.
A investigação se arrastou por mais de 20 anos, com cinco julgamentos diferentes. Um dos tribunais do júri, realizado em 1998, é considerado um dos mais longos da história do Judiciário brasileiro, com 34 dias. Na época, Celina e Beatriz foram inocentadas porque não houve a comprovação de que o corpo encontrado era de fato do menino Evandro.
O Ministério Público recorreu e um novo júri foi realizado em 2011. Desta vez, comprovada a identidade da vítima, Beatriz, a filha, foi condenada a 21 anos de prisão e a mãe, Celina, não foi julgada porque tinha mais de 70 anos e o crime já tinha prescrito.
Com gravações que indicam que os acusados foram torturados para confessar o crime, o sétimo episódio de O Caso Evandro estreou no início de junho e provocou uma reviravolta no caso, incluindo o procedimento de abertura de um processo contra o Estado do Paraná por crimes contra a humanidade, promovido pelo advogado de defesa Antonio Figueiredo Basto.