Ninguém está mais feliz do que Rick Riordan com a adaptação de Percy Jackson e os Olimpianos para o Disney+, novo serviço de streaming da Disney. Foi o próprio autor que anunciou a novidade, em maio, e desde então vem mantendo os fãs informados sobre a produção. A alegria não é à toa, uma vez que o escritor foi um dos maiores críticos à adaptação cinematográfica — que, na verdade, foi aprovada por quase ninguém.
Lançado há 15 anos, em junho de 2005, Percy Jackson chegou às livrarias americanas prometendo novas aventuras fantásticas para uma geração que acabara de conhecer Harry Potter e receber uma adaptação cinematográfica épica de O Senhor dos Anéis. Diferente de outros empreendimentos similares, no entanto, o livro não ficou apenas na promessa, dando início a uma longeva e bem-sucedida franquia literária.
Em termos latino-americanos, a obra de Riordan é quase de um realismo fantástico, mas com uma dose gigantesca de mitologia. Na série original, é a tradição dos gregos que é retratada, mas nada das cerimônias e História com "H" maiúsculo. A mitologia aparece viva, partindo da premissa de que todos aqueles deuses do Olimpo — Zeus, Hera, Apollo — são reais e nunca deixaram de existir. Eles só mudaram de endereço, junto com a tal "chama da civilização ocidental". Mais precisamente: nos dias de hoje, eles estão acompanhando tudo o que acontece de cima do Empire State Building, em Nova York.
Para Riordan, os deuses não apenas seguem existindo como não mudaram seus hábitos da Grécia Antiga para cá. Um de seus passatempos preferidos segue sendo conquistar mortais e ter filhos meio-sangue, os tais semideuses das histórias. Percy Jackson, então, é como o Hércules ou Teseu do século 21.
A adaptação
Rick Riordan gravou um vídeo para contar a novidade. Sorrindo, ele fez questão de agradecer aos fãs, que nos últimos anos vêm fazendo campanhas para que a Disney faça uma "adaptação justa" de Percy Jackson. Os direitos do livro foram adquiridos junto com a compra da Fox.
"Não podemos falar muito mais nessa fase, mas estamos muito animados com a ideia de uma série live-action da maior qualidade, seguindo a história da série original de cinco livros de Percy Jackson, começando com O Ladrão de Raios na primeira temporada", afirmou Riordan, em nota oficial, publicada junto ao clipe.
Assim, é justo esperar que o show tenha ao menos cinco temporadas confirmadas, para dar conta da primeira fase de livros de Percy: O Ladrão de Raios, O Mar de Monstros, A Maldição do Titã, A Batalha do Labirinto e O Último Olimpiano. Caso a série faça sucesso, é fato que Riordan foi prolífero nos últimos anos e o universo cinematográfico poderia ser expandido para os deuses romanos (Os Heróis do Olimpo), nórdicos (Magnus Chase e os Deuses de Asgard), egípcios (As Crônicas dos Kane), entre outras publicações.
Apesar da empolgação, no entanto, a produção deve demorar pelo menos dois anos para chegar ao grande público. Este, pelo menos, é o palpite "otimista" de Rick Riordan. Em resposta a um fã no Twitter, ele declarou que fazer uma série é infinitamente mais complicado do que escrever um livro, especialmente considerando a pandemia. "Nós ainda estamos nos primeiros estágios de escrita, que vão levar meses. O palpite mais otimista seria dois anos, eu acho?", respondeu o autor.
Já sua esposa, Becky, que também participa do projeto, contou em uma atualização que os dois estão tendo reuniões com a equipe e que o episódio piloto já tem um roteiro inicial. "Estamos nos divertindo!", declarou aos seguidores no Twitter.
Os filmes
"Podem ficar tranquilos que Becky e eu estaremos envolvidos pessoalmente em todos os aspectos do programa", escreveu o autor, em outro trecho da nota que anunciou a série. Os leitores que acompanharam Riordan pelos últimos anos, sabem que é uma declaração diretamente ligada aos dois filmes feitos a partir de Percy Jackson.
Os dois longas, O Ladrão de Raios (2010) e O Mar de Monstros (2013), de Chris Columbus e Thor Freudenthal, respectivamente, já foram publicamente criticados pelo escritor. Pelo mesmo perfil do Twitter, em junho deste ano, ele recordou seus seguidores de que nunca assistiu às adaptações por considerar os roteiros muito ruins e injustos com a história.
Em uma publicação em seu blog, em novembro de 2018, o escritor resumiu todas suas críticas em um texto intitulado "Memories from my TV/Movie Experience" ("Memórias de minha experiência com televisão e cinema"). Riordan mostra que enviou várias notas aos produtores ao longo do projeto de O Ladrão de Raios, mas que suas palavras foram ignoradas.
Entre suas críticas estavam a alteração da trama, com a exclusão de vários personagens importantes e inclusão de passagens inexistentes no livro. "Não entendo muito bem a ideia de adicionar cenas e tramas completamente estranhas ao livro e fazer a história parecer um trabalho ilógico de machadinha", escreveu Riordan sobre o roteiro.
As produções também alteraram o espírito do romance, pois no livro as figuras mitológicas aparecem na maior parte das vezes ridicularizadas dentro da sociedade americana. Poseidon, deus do mar, por exemplo, usa uma camisa havaiana no livro. Dionísio, deus do vinho, seguindo uma restrição de Zeus, precisa se contentar com Diet Coke. Nos filmes, tudo foi transformado, com deuses saídos diretos das páginas de um livro de História.
"Se uma regravação acontecer algum dia, de alguma forma, eu espero, como vocês, que seja uma ótima adaptação fiel aos livros e divertida de assistir", afirmou Riordan à época. Dois anos depois, ele tem uma nova chance para fazer o seu desejo se realizar.