Emergências médicas parecem ser parte da receita para entreter o público brasileiro durante a pandemia. Nesta segunda-feira (27), o Sony Channel estreia no seu horário nobre The Night Shift (às 21h55), série focada no turno da noite de um pronto-socorro nos Estados Unidos. Com isso, a televisão por assinatura nacional chega a oito dramas hospitalares em exibição: The Good Doctor, Grey's Anatomy, New Amsterdam, The Resident, Remedy, House e Night Shift (veja programação completa abaixo).
E eles podem ajudar mesmo. A doutoranda do programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense Melina Meimaridis, que há anos estuda seriados de ficção (inclusive os médicos), considera que tal popularidade é um “efeito de controle de ansiedade”.
— Em meio a tantas notícias ruins, o caos e a sensação de descontrole, as séries médicas apresentam um universo ordenado pela instituição médica e com profissionais extremamente capacitados. Essas produções atendem a este anseio por ordem e até de um reforço “de que as coisas vão ficar bem” — explica Melina.
Ou seja, imaginar que será atendido por uma Meredith Grey ou um Shaun Murphy, caso acabe em um hospital, pode ser um alívio em meio à pandemia, enquanto os números de vítimas fatais apenas aumentam nos jornais. Mas não é só isso, claro. Mesmo antes do coronavírus, tais produções já se destacavam mundo afora.
— Desde 1951 nós temos séries institucionais médicas na TV estadunidense. De lá pra cá, mais de 100 produções foram exibidas e algumas chegam a ficar mais de uma década no ar, como no caso de ER (Plantão Médico, 15 temporadas) e Grey’s Anatomy (atualmente indo para sua 17ª temporada). Isso significa em torno de 300 episódios envolvendo médicos salvando vidas — Melina recorda.
No artigo Dissecando fórmulas narrativas: drama profissional e melodrama nas séries médicas, a pesquisadora defende, junto ao professor Afonso Albuquerque, que tal encantamento é resultado de uma fórmula que combina dois mundos opostos. De um lado, está a vida normal, que dá humanidade aos personagens, com suas batalhas por amor, felicidade, sucesso; do outro, uma realidade "extraordinária", no caso, a medicina, e sua "constante batalha contra a morte e a doença".
Quer dizer, quase todo mundo consegue se identificar com as idas e vindas do romance de Natalie e Wil em Chicago Med, por exemplo, mesmo sem nunca ter segurado um bisturi. Quando estes personagens entram no centro cirúrgico, no entanto, ganham contornos de heróis que, dado o grande contraste, simplesmente, tornam suas personas irresistíveis. Como o Dr. House, na série homônima, que mesmo quando age como um completo babaca, segue sendo um babaca que salva vidas.
Ficção
Mas nem tudo são flores. Ao pintar tais personagens como heróis, capazes de ir muito além do recomendável por seus pacientes, tais séries podem criar uma visão muito distorcida da realidade. Não dá para esperar que todo médico seja magnânimo como um Dr. Max Goodwin, diretor que busca levar um hospital público a um novo nível em New Amsterdam.
— Podemos dizer que o público ao consumir as séries médicas pode ser influenciado a acreditar que os médicos nos Estados Unidos são excelentes, que os hospitais estão mais preocupados em salvar vidas do que em lucrar e que todo mundo recebe atendimento de alta qualidade — afirma Melina.
Em suas últimas temporadas, Grey's Anatomy, por exemplo, começou a abordar tal assunto. Como nos Estados Unidos não há um Sistema Único de Saúde (SUS), muitas pessoas simplesmente não têm condições de arcar com os custos exorbitantes de cuidados médicos. A protagonista chegou a ser encarcerada, no 16º ano do seriado, por não aceitar essa situação e acabar cometendo uma fraude com sua companhia de seguro saúde.
Independentemente destes problemas, no entanto, é provável que o segmento ganhe ainda mais séries nos próximos anos, uma vez que os profissionais de saúde estão na linha de frente do combate à covid-19, sendo também algumas das vítimas da pandemia.
— Acredito que podemos ter um incremento nas séries médicas. Agora nesse contexto de exaltação dos profissionais de saúde faz sentido essas profissões terem mais destaque nas narrativas ficcionais — declara a pesquisadora. — É uma fórmula muito versátil e que pode ter infinitos arranjos. Se o público vai acompanhar essas novas produções “eternamente”, já é outra questão.
Programação completa
Segunda-feira
The Good Doctor – segunda temporada. Às 21h, no Sony Channel
O bom doutor é Shaun Murphy (Freddie Highmore, de Bates Motel), um jovem cirurgião brilhante que, por ter síndrome de Asperger, precisa lidar com o ceticismo de seus colegas de residência e dos próprios pacientes no San Jose St. Bonaventure Hospital.
The Night Shift – primeira temporada. Às 21h55min, no Sony Channel
No turno da noite, as emergências são ainda mais dramáticas. No centro da trama está TC Callahan (Eoin Macken), ex-médico do exército norte-americano, pronto a burlar regras para salvar vidas. Tal temperamento impetuoso logo cria problemas dentro do hospital San Antonio Memorial, onde a trama é ambientada.
Chicago Med – quinta temporada. Às 23h10min, no Universal
Dentro do universo "OneChicago" (de Chicago Fire e Chicago P.D.), a produção acompanha a equipe médica, formada por doutores e enfermeiros, na emergência do Gaffney Chicago Medical Center, assim como segue os dramas pessoais dos personagens.
Terça-feira
New Amsterdam – segunda temporada. Às 18h45min, na FOX Life
Acompanha as desventuras do diretor do hospital New Amsterdam, Dr. Max Goodwin (Ryan Eggold). Ele procura motivar médicos frustrados e transformar o local, que até sua chegada não passava de uma instituição pública abandonada.
Grey's Anatomy – 16ª temporada. Às 21h, no Sony Channel
Dramas médicos e pessoais da equipe de cirurgiões de um hospital em Seattle (a princípio Seattle Grace, mais tarde Seattle Grace Mercy West e por fim Grey Sloan Memorial). A protagonista é Meredith Grey (Ellen Pompeo), que começa como interna, passa por sua residência e por fim se torna uma atendente na instituição.
Quarta-feira
House, M.D. – sexta temporada. Às 14h40min, na Universal
O amargurado e sarcástico Dr. Gregory House (Hugh Laurie) comanda um time de médicos especializados em diagnósticos misteriosos no hospital-escola Princeton Plainsboro. Exibido originalmente entre 2004 e 2012, a série segue com reprises nas tardes da Universal e alguns horários da madrugada.
The Resident – terceira temporada. Às 18h45min, na FOX Life
Conrad Hawkins (Matt Czuchry, de Gilmore Girls) está nos últimos anos de seu treinamento na medicina, a residência. Até então bastante idealista, ele e seus colegas tentam driblar as regras do hospital em que trabalham , para colocar a medicina acima dos interesses monetários da instituição e de seus investidores.
De segunda a sexta
Remedy – primeira temporada. De segunda a sexta, na FOX Life, entre 10h45min e 11h
Com apenas duas temporadas, antes de ser cancelado, o drama canadense é reprisado nas manhãs no Fox Life. Na produção, um ex-estudante de medicina que nunca completou os estudos passa a trabalhar nos serviços gerais do hospital em que seu pai, médico, é diretor.