"É um lindo dia para salvar vidas", recordou o ator Patrick Dempsey nesta segunda-feira (29) ao publicar uma imagem utilizando máscara. Há cinco anos longe de Grey's Anatomy, o intérprete de McDreamy ainda conseguiu animar os fãs com o seu bordão no drama médico. Essa, no entanto, é uma das poucas novidades para os seguidores do programa, que não têm um novo episódio da série desde abril, quando o último capítulo da 16ª temporada foi exibido.
A temporada, inclusive, foi encurtada em quatro episódios, devido aos riscos de seguir a produção em meio à pandemia de coronavírus. Desta forma, é fácil especular sobre os temas que vão agitar o retorno de Grey's para seu 17º ano (cuidado, spoilers à vista!): a recuperação de Richard (James Pickens Jr.), após mais uma grande cirurgia; o futuro de De Luca (Giacomo Gianniotti), depois de seu colapso nervoso; a vida de Jo (Camilla Luddington), agora não mais Karev; e o desfecho de Owen (Kevin McKidd) e Teddy (Kim Raver), após a vexatória revelação da traição dela, logo antes do casamento.
Mas não são apenas notícias tristes no centro cirúrgico. Em entrevista a Variety, em abril, a atual showrunner Krista Vernoff afirmou que Link (Chris Carmack) e Amelia (Caterina Scorsone) devem ter um pouco de sossego, após uma gravidez cheia de altos e baixos:
— Acho que vamos dar um tempo a eles. (Risos) É bom ver esses dois felizes. Eles passaram por muita coisa.
Quanto aos próximos passos da protagonista Meredith Grey, que empresta seu nome ao título da série, é possível esperar um aprofundamento ainda maior de suas críticas ao sistema de saúde dos Estados Unidos. A visão é de Ellen Pompeo, que além de interpretar o papel é uma das produtoras de Grey's.
Também em entrevista a Variety, ela disse que estuda a possibilidade de novos episódios da série abordarem a pandemia de coronavírus, ressaltando as relações entre os desdobramentos da crise sanitária e questões políticas:
— Obviamente, não queremos ser políticos demais aqui, mas eu estava assistindo às notícias e vi um clipe de Barack Obama em 2014, dizendo que uma pandemia era inevitável e que deveríamos estar preparados, mas os republicanos não estavam concedendo a ele o orçamento (...) O fato de que cinco anos depois não estamos preparados, algumas pessoas deram uma bola fora, com certeza. Isso é decepcionante.
Vernoff é mais incerta ao falar sobre uma possível abordagem em Grey's sobre a pandemia. De acordo com a showrunner, o público pode estar justamente precisando de uma "fuga da realidade". Ainda assim, ela pondera que pode ser estranho se a série não refletir a realidade:
— Quando assisto à televisão agora e as pessoas estão apertando as mãos e se abraçando, parece um programa de uma época diferente. (Risos) Estou ansiosa para ter os roteiristas juntos, ponderando os prós e os contras juntos.
Racismo
Porém, não são só as preocupações com a pandemia que formataram as discussões nos últimos meses. A onda de manifestações que varreu os Estados Unidos desde o caso de George Floyd, um homem negro, morto nas mãos de um policial branco, também deve ser refletido no mundo do entretenimento. Foi o que ocorreu com a sitcom Brooklyn Nine-Nine, que vai ter todos os seus roteiros reescritos frente ao caso.
Para Grey's Anatomy, racismo não será um tema novo. Criado por Shonda Rhimes, o show (assim como suas outras criações) sempre buscou dar mais espaço à diversidade, além de trazer temas pungentes na sociedade em sua trama. No episódio Personal Jesus, por exemplo, os cirurgiões precisam tratar de um menino negro, baleado por um policial, enquanto tentava pular a cerca da própria casa — ele havia esquecido a chave. Ao final do capítulo, em um vídeo que viralizou nos últimos meses, Ben e Miranda têm "a conversa" com seu filho. Um guia pragmático, mas desmoralizador, de como ele deve se comportar com a polícia por ser negro.
Há outros momentos, como quando Maggie (Kelly McCreary) precisa relembrar a Amelia que não é uma "fonte oficial" para todo pensamento negro, só pela cor de sua pele; ou quando Richard fala sobre sua própria residência médica, em outro contexto, em que só encontrava simpatia na única mulher do programa — que também era discriminada.
Só que não é apenas em frente às câmeras. Ellen Pompeo esteve presente nas manifestações antirracistas nos EUA, ao lado de T. R. Knight, que interpretava George O'Malley nas primeiras temporadas de Grey's. Vernoff demonstrou, a partir de relatos pessoais, como a brutalidade policial é fortemente influenciada por um viés racial.
Enquanto isso, Shonda ressaltou em uma declaração no Instagram que "Shondaland tem sido um lugar para contar histórias e, francamente, na sociedade a história do racismo é longa e dolorosa (...) O racismo deve ser condenado e todos que se opõem a ele devem ser defendidos". A escritora ainda finalizou com a filosofia que vem sendo cerne de suas empreitadas desde o dia um: "Vozes coletivas criam mudanças. Faça sua parte, hoje e todos os dias".
Retorno
Com gravações suspensas desde março, quando a pandemia de coronavírus começou a avançar na América, o retorno de Grey's Anatomy depende da capacidade dos EUA de frear a covid-19. A 17ª temporada, no entanto, está confirmada e a ABC divulga que chegará "em breve".