Segundo lugar no ranking de países com maior número de ocorrências de exploração sexual infantil, o Brasil somou cerca de 500 mil casos somente em 2018. Os dados alarmantes, divulgados pela organização internacional Freedom Fund, reforçam a importância do documentário Um Crime Entre Nós, que estreia à meia-noite de hoje para amanhã no canal por assinatura GNT.
Produzido e idealizado pela Maria Farinha Filmes e pelos institutos Liberta e Alana, o longa-metragem dirigido por Adriana Yañez apresenta dados e entrevistas, mirando na raiz do problema: a naturalização dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes em todo o país.
— Muitas vezes a vítima é culpabilizada pela violência sofrida. O filme nasce, sobretudo, com o objetivo de trazer esse assunto para pauta. Se não falarmos sobre isso, não haverá mudança — afirma Adriana.
A produção investe em contrapontos importantes. De um lado, estão depoimentos como os do médico Drauzio Varella, da youtuber Jout Jout, do apresentador Luciano Huck e de especialistas no tema. Do outro, está a desinformação e o preconceito na visão geral sobre o crime.
Em bar de Manaus (AM), por exemplo, Huck questiona os homens ali presentes se uma menina de 11 anos tem culpa de ser molestada sexualmente ao usar uma camiseta curta. Todos concordam que sim.
Delicado na abordagem de uma tema tão grave, Um Crime Entre Nós expõe o problema de forma didática transitando por diferentes cidades e investindo também, por meio de cantigas populares como Se Essa Rua Fosse Minha, no espelhamento entre o drama encarado por muitos jovens e os aspectos lúdicos da infância a eles negados.
— Oferecemos outros ângulos para a compreensão do assunto, que podem despertar memórias, questionar ideias e verdades.
O interessante é saber que o filme é apenas metade da história. A outra metade é preenchida e compreendida a partir da subjetividade de cada um que o assiste – acredita Adriana.
Machismo
Um dos idealizadores do documentário, o Instituto Liberta entra no seu quarto ano de atividade criando estratégias para lançar luz a esse problema. A data para o lançamento da produção foi escolhida para reforçar a proposta: 18 de maio é o Dia Nacional do Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, instituído por lei federal em 2000.
— Conseguimos tratar de um tema pesado nesse dia. A gente quer que a essa realidade seja transformada, por acreditarmos nesse caminho, da educação e da discussão nas escolas — destaca a advogada Luciana Temer, diretora-geral do Instituto Liberta.
Luciana chama a atenção para as diferentes visões que o drama provoca:
— Quando uma menina de seis anos é estuprada, causa indignação social. Mas quando uma de 13 se oferece no calçadão da praia, a sociedade a vê como uma prostituta. Não tem empatia por ela. Isso porque estamos em um país machista, que culpabiliza a vítima. Diante deste cenário, em que pouco é falado sobre o assunto, o documentário nasce para reforçar a necessidade de políticas públicas. Precisamos virar essa chave e tomar consciência da gravidade do problema que tem consequência social enorme. Quando começa a incomodar é que vamos pressionar a política. Não adianta o governo só trabalha com a pressão popular.
A partir de amanhã, Um Crime Entre Nós estará disponível na plataforma GNT Play com acesso liberado por uma semana. Nesta segunda-feira (18) será realizado um debate com a equipe do filme e especialistas no tema, a partir das 11h, no Facebook do Instituto Liberta.