Em Amor de Mãe, nenhum dos personagens é apenas uma coisa só: bandido ou mocinho, herói ou vilão, bom ou mau. Assim como na vida real, todos têm diversas camadas, podem se modificar conforme a situação que se apresenta, ou até mesmo em nome de um sentimento mais forte do que a ética. O caso de Penha ilustra bem essa montanha-russa de possibilidades da trama das nove.
A personagem de Clarissa Pinheiro teve cenas pequenas, mas emblemáticas logo nos primeiros capítulos. Na época em que trabalhava como empregada doméstica na casa de Lídia (Malu Galli), tentava trazer a patroa de volta à realidade, como, por exemplo, pedindo um simples conserto em seu banheiro.
Mergulhada nos próprios problemas e incapaz de olhar além do próprio umbigo, a dondoca achou um absurdo a queixa da doméstica. Vários capítulos se passaram, e, hoje em dia, Penha tem problemas bem maiores do que uma privada quebrada.
A tentativa de se vingar de Belizário (Tuca Andrada) pela morte de seu marido, Wesley (Dan Ferreira), resultou em uma tórrida e perigosa história de amor. De funcionária, Penha passou a ser patroa e tem nas mãos gente poderosa como Álvaro (Irandhir Santos) e Vitória (Taís Araujo).
A virada de mesa da personagem, nem sua intérprete imaginava. Em bate-papo, Clarissa conta como vem lidando com tantas mudanças na trama das nove e se diverte com a repercussão junto ao público.
Sua personagem, Penha, começou a novela como uma humilde empregada doméstica e, aos poucos, foi ganhando uma trama própria e cheia de viradas. Você imaginava que teria tanto destaque ao longo da história?
Nunca imaginei que a Penha fosse crescer assim. Estou feliz demais por isso, porque, quanto mais cenas gravamos, mais aquecidos ficamos para o jogo cênico. A personagem vai ganhando novas camadas emocionais, e isso é um presente para qualquer ator.
Como tem sido a repercussão do povo nas ruas? Tem gente xingando a Penha por se envolver com Belizário?
É engraçado porque, às vezes, estou andando na rua e escuto alguém gritar de longe: "Mata aquele desgraçado!", ou "Como você foi se apaixonar por aquele cara?". Está sendo bem legal o feedback das pessoas.
Como se preparou para essa nova fase como uma quase-vilã, flertando com a bandidagem?
A virada da Penha me fez trabalhar o sentimento de ódio e vingança dentro de mim. Cada personagem nos convida a mergulhar em sentimentos que, muitas vezes, recusamos enxergar em nós mesmos. Essa é a beleza do trabalho do ator: se permitir viver e se colocar no lugar e no coração de outra pessoa.
Você se inspirou em alguém ou em algum personagem para mostrar esse "amor bandido"?
Tentei criar a partir do meu sentimento, das minhas experiências. Nunca me apaixonei por um bandido, ufa! Mas já vivi várias vezes o sentimento de paixão. Também pesquisei — dica do Walter Carvalho (diretor) — sobre Lili Carabina, personagem do Aguinaldo Silva, vivida pela Betty Faria (na série Plantão de Polícia, entre 1979 e 1981). Além de ter como inspiração vilãs lendárias como Carminha (Adriana Esteves, em Avenida Brasil, 2012, no ar em Vale a Pena Ver de Novo), Flora (Patrícia Pillar, em A Favorita, 2008) e Nazaré (Renata Sorrah, em Senhora do Destino, 2004).