Um dos mais consagrados nomes do cinema nacional, Bruno Barreto reconhece que o mercado audiovisual enfrenta um período difícil. No momento, ele prepara duas novas minisséries para o canal pago HBO: O Hóspede Americano, sobre Theodore Roosevelt e a viagem que este fez com o Marechal Rondon, em 1914, descendo o Rio da Dúvida, no norte do Mato Grosso, e A Escravidão Hoje, produção documental sobre as diversas formas de trabalho escravo no Brasil de hoje.
Nesta sexta-feira (25), o Canal Brasil lança sua nova minissérie Toda Forma de Amor. Em entrevista a GaúchaZH, Barreto fala sobre produções voltadas à TV e a situação do setor audiovisual no país.
Você tem uma sólida trajetória no cinema brasileiro e agora, a exemplo de outros grandes cineastas no mundo, apresenta uma projeto de maior fôlego na TV. O que lhe motivou a seguir esse caminho e esse projeto em particular?
Robert McKee, o guru dos roteiristas, diz que a dramaturgia migrou para a telinha. Eu concordo com ele. As histórias que falam do comportamento humano estão cada vez mais raras na telona. Nada contra os filmes-eventos baseados nos super-heróis. Eu apenas não saberia fazê-los.
Muitos renomados profissionais em todo o mundo dizem que a indústria cinematográfica está cada vez mais voltada ao entretenimento juvenil, e que a TV, com sua múltipla plataformas, estão mais abertas a projeto autorais para um público adulto. Você concorda?
Totalmente.
Com sua experiência nos modelos de produção nos EUA e no Brasil, como vê a atual situação do cinema nacional, em meio a impasses e questionamentos sobre as políticas públicas de fomento?
Esse momento conturbado que estamos vivendo no Brasil, não somente na área do audiovisual, pode ser desagradável agora, mas acho que vai acabar trazendo mudanças bastante necessárias num futuro próximo. Não existe progresso sem ruptura.
Você acredita que a produção audiovisual com a temática LGBT+ está aumentando? Como avalia o interesse do público e a postura governamental sobre esse tema?
A militância empobrece a arte. Acho até desonesto o artista se apropriar de uma causa para sua criação. Muitas vezes, a intenção, até inconsciente, é dar mais visibilidade a sua obra: oportunismo. Eu acredito na liberdade de expressão acima de tudo, por isso acho importante, sim, termos vários tipos de personagens, e isso implica várias identidades, inclusive de gêneros. Mas nunca como temática. Quanto à atitude do governo atual em relação a ter personagens LGBT+ em algumas produções audiovisuais, não tenho medo nenhum.
O episódio recente, no qual a Justiça reverteu rapidamente uma tentativa infeliz de cancelar um edital, mostra que vivemos numa democracia sólida.