Nem Google ou Wikipedia — muito menos YouTube ou Netflix. Há 46 anos, o mundo era outro e não havia jeito de conhecê-lo com apenas alguns cliques. Enquanto a internet ainda dava seus primeiros passos nos laboratórios e nas universidades dos Estados Unidos, no Brasil nascia o Globo Repórter: uma janela semanal para o desconhecido, direto em sua televisão.
Foi na primeira sexta-feira de abril de 1973, dia 7, que o programa estreou na grade da Globo, orquestrado por Moacyr Masson e Paulo Gil Soares, mas já com apresentação de Sérgio Chapelin, que permaneceu como âncora até 1983. Com passagens por diferentes produtos da emissora nos anos seguintes, como Jornal Nacional e Fantástico, em 1996 ele retornou ao posto em que segue até esta sexta-feira (26) — quando se despede de vez do Globo Repórter, dando lugar a Sandra Annenberg e Glória Maria.
ANOS 1970
Da edição inaugural, que mostrou a situação dos índios Siouxsie nos Estados Unidos, os primeiros programas tiveram um ar experimental devido ao ineditismo do projeto.
O modelo que foi consagrado, contudo, e se tornou marca do Globo Repórter nestes anos, foi o de reportagens em blocos, com o Globo Repórter Atualidades (principais assuntos do mês), Globo Repórter Pesquisa (investigação de temas polêmicos), Globo Repórter Futuro (especulações sobre o mundo de amanhã), Globo Repórter Documento (exibição do Globo Shell Especial) e Globo Repórter Arte (música, literatura, dança).
O sucesso garantiu o investimento na produção de documentários, com produtores que entraram na história do cinema nacional, como Walter Lima Jr. e Eduardo Coutinho. Narrativas que denunciavam os problemas no país no período, contudo, foram sistematicamente censurados pela Ditadura Militar (1964-1985).
ANOS 1980
Na década seguinte, o Globo Repórter passou por outro tipo de turbulência. Em junho de 1980, a equipe que realizava a atração foi extinta e as reportagens ficaram sob responsabilidade do núcleo carioca da Globo, com direção do cineasta Paulo Gil Soares. Para superar o vácuo deixado pelos paulistas, também passaram a ser transmitidas obras de produtoras independentes, como a Cinespaço. Instável, no final de 1982 o programa chegou a ficar fora da grade de programação por cinco meses, retornando apenas no ano seguinte, reformulado, com exibição às quintas-feiras e apresentação de Eliakim Araújo.
Apesar das dificuldades técnicas, o período também teve inovações, como o primeiro Globo Repórter completamente gravado e editado em fita. Transmitido em 10 de junho de 1982, o material foi realizado por José Hamilton Ribeiro, primeiro repórter do programa a aparecer no vídeo, e acompanhava o cotidiano de três homens que deixaram suas famílias — em Minas Gerais, no Maranhão e no Pará — para tentar a sorte no garimpo.
No Memória Globo, Roberto Feith, editor-chefe do programa na época, defende as mudanças:
— O Globo Repórter, na sua edição anterior, tinha o formato próximo ao do documentário cinematográfico. Eram filmes de 45 minutos com uma linguagem narrativa que tinha mais afinidades com o cinema do que com a televisão. Evidentemente, essa linguagem cinematográfica tem muitos atributos positivos e que procuramos aproveitar posteriormente, mas ela tem uma cadência narrativa mais lenta e menos jornalística. Quando criamos, digamos assim, a "nova encarnação" do programa, adotamos uma linguagem televisiva, de reportagem.
ANOS 1990
Já nos anos 1990, passam pela chefia da edição do Globo Repórter nomes como Jorge Pontual e Silvia Sayão. Ao longo da década, a atração resolveu apostar em um tema por edição e em assuntos com um apelo maior com o público.
— Programas que têm um enfoque de aventura ou de comportamento são sinônimos de boa audiência. Além disso, o Globo Repórter passou a dar voz aos cientistas brasileiros, mostrou um Brasil que era quase desconhecido pela televisão — relatou Sayão, também ao Memória Globo.
Edições relacionados à natureza e à ecologia, aproveitando também a qualidade cada vez maior das gravações e televisores, tomaram conta da programação, com inúmeras curiosidades do mundo animal e a vida em localidades distantes dos grandes centros urbanos.
ANOS 2000
Com a popularização de vez da internet, a inovação dos anos 2000 foi dar ao público a chance de escolher os temas investigados pelo programa semanalmente. Onde vivem, do que se alimentam, como são: o Globo Repórter trazia as respostas, mas desta vez era o telespectador quem escolhia o objeto sob escrutínio.
Um dos programas que marcaram essa década foi o especial exibido em 14 de setembro de 2001, realizado apenas três dias após o atentado que entrou para a história, quando terroristas derrubaram as duas torres gêmeas do World Trade Center no centro de Nova York, nos Estados Unidos.
Silvia Sayão, que contou com ajuda de Pontual na produção (já que ele estava em Nova York no período), relembra ao Memória Globo sobre o capítulo:
— Os dois edifícios desabaram, isso demorou algumas horas, e foi aquela loucura. Histórias dramáticas, como nunca vi em nenhum outro acontecimento jornalístico. Foi um programa de um impacto tremendo, teve uma audiência altíssima.