Em meio a protestos de pais, nota de repúdio e fake news, a série animada Super Drags estreia nesta sexta-feira na Netflix. Primeira animação brasileira no serviço de streaming, a atração conta a a história de três drag queens que usam seus super poderes para enfrentar as forças do mal – seja enfrentando clientes suspeitos ou lutando contra o preconceito. A trama gira em torno de três homens: Patrick, Donny e Ramon. Eles trabalham em uma loja de departamento e, à noite, se transformam nas divas drags Lemon Chiffon, Safira Cian e Scarlet Carmesim.
Criada por Anderson Mahanski, Fernando Mendonça e Paulo Lescaut, a série traz drags conhecidas da cena brasileira e internacional na dublagem: na versão em português, a veterana Silvetty Montilla dá voz a Vedete Champagne e Pabllo Vittar dubla a personagem Goldiva. Aliás, Pabllo também canta a música Highlight, tema da série cujo clipe foi lançado na última quarta-feira. Na versão em inglês, a atração terá drags que participaram do badalado reality show RuPaul's Drag Race, como Shangela, Willam, Trixie Mattel e Ginger Minj.
No entanto, Super Drags foi alvo de protestos na web por conta de pais, supostamente, preocupados com o conteúdo - mesmo que a atração seja voltada para o público adulto e tem classificação indicativa para maiores de 16 anos. Correntes de WhatsApp e publicações no Facebook repercutiram o lançamento da série como uma ameaça às crianças. A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou uma nota repercutindo uma notícia falsa que indicava que a animação fosse voltada para o público infantil. No comunicado, a SBP afirmava que via "com preocupação um desenho animado cuja trama gira ao redor de jovens que se transformam em drag queens super-heroínas". Na nota, os pediatras pediam o cancelamento da série, como "expressão de compromisso do desenvolvimento de futuras gerações".
A incompreensão com a classificação indicativa da série acabou chegando ao Congresso: o deputado federal Alan Rick (DEM-AC) emitiu no dia 1º de novembro, em seu perfil no Facebook, uma nota de repúdio à Super Drags. Na publicação, o parlamentar destacou que "o desenho que é recheada de palavrões e piadas de cunho sexual" e "a lei brasileira determina que é tarefa da família a formação moral de crianças e adolescentes (…) Essa formação tem reflexos imediatos no comportamento de crianças e adolescentes (…) O que estamos vivenciando e confrontando no Congresso são tentativas sórdidas de influenciar sexualmente nossas crianças".
O deputado disse também que enviaria oficialmente uma nota de repúdio à Netflix contra a série em nome da Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família, da qual é vice-presidente.
Vale lembrar que a Netflix possui outras animações destinadas ao público adulto, como Bojack Horseman e Big Mouth, que trazem em seus conteúdos cenas de sexo, violência e consumo de drogas, mas que nunca chamaram a atenção da pediatras e parlamentares brasileiros.
Para responder às críticas, a Netflix divulgou dicas sobre como gerenciar perfis infantis na plataforma. O acesso dos filhos aos conteúdos da plataforma pode ser limitado. O controle dos pais pode ser ativado no menu "Conta", no qual é possível ajustar a classificação indicativa permitida para o usuário, para apenas programas "livres", de 12, 14, 16 ou 18 anos. Como Super Drags é uma série destinada ao público adulto, a atração não estará disponível nas contas infantis da plataforma de streaming. "Nem tudo é pra todo mundo e quem controla é você. Pode mandar essa no zap", ressaltou a companhia em publicação nas redes sociais.
A Netflix também divulgou um vídeo no YouTube esclarecendo que nem toda animação é para criança.
Em comunicado divulgado na época do anúncio da série, a diretora de conteúdo original internacional da Netflix, Chris Sanagustin, se mostrou empolgada com a atração: "Estamos entusiasmados que a nossa primeira animação brasileira vai apresentar aos nossos espectadores o mundo ousado, escandaloso e fabuloso de Super Drags. A Netflix tem a sorte de investir em grandes talentos de animação do Brasil".