Por Raquel Rodrigues
Com o mesmo olhar feminista, a identificação de Nathalia Dill com Elisabeta, sua personagem em Orgulho e Paixão, é natural. A atriz entende bem os conflitos da protagonista, que quer sair do Vale do Café e conhecer o mundo em vez de se casar e levar uma vida como a das mulheres do local. No entanto, o romance já se instalou em seu caminho e a colocou no vértice de um triângulo amoroso completado por Darcy (Thiago Lacerda) e Ernesto (Rodrigo Simas). São várias as facetas da protagonista que vêm encantando a atriz de 32 anos. Na entrevista a seguir, Nathalia compara a situação da mulher na época da trama com a atual e conta como trabalha com o texto e a direção da novela.
O que a atraiu em Elisabeta?
Quanto maior o número de possibilidades que o personagem tiver, melhor ele é. O que eu mais gosto na Elisabeta é esse colorido dela, tem um leque de emoções.
Considera a Elisabeta uma mulher à frente do seu tempo?
Qualquer mulher sempre esteve à frente. Todos os tempos foram atrasados para elas, assim como para os negros e para todas as minorias. Acho que quando a gente está ouvindo o nosso desejo e querendo viver a nossa vida, naturalmente estamos adiante daquele momento.
Você é feminista, e a Elisabeta é uma espécie de vanguardista desse movimento pela forma como pensa. Que atitudes da personagem a inspiram?
A época dela era muito atrasada para as mulheres assim como a nossa ainda é. Só o fato de ela não abaixar a cabeça para as situações, não aceitar o status quo, já é uma coisa que me inspira. É uma energia que, quanto mais conseguir colocar nela, melhor.
Essa postura libertária da Elisabeta em 1910 a impressionou?
É uma luta muito forte, você vai ter sempre que estar contra um sistema que lhe ataca. O que me impressiona é o jeito como ela lida com a situação, pois tem uma língua muito afiada. O modo como o autor (Marcos Bernstein) está escrevendo e o Fred (Mayrink) dirige está contando como ela é uma personagem atenta a todos os sinais a sua volta. Eu também tento fazer isso, observo os outros atores, a situação, a locação e o cenário, como está estruturado, para jogar com todos esses elementos.
As pessoas ainda acham que é importante o casamento para que se seja bem-sucedida?
Nunca foi muito desatrelado da mulher, tanto que as perguntas sobre crianças são mais voltadas para nós do que para eles. Esse modelo esteve sempre no imaginário da nossa sociedade, não tem como desligar. Por isso que fica essa ideia de que quem não casa não chegou lá ou que falta um pedaço do quebra-cabeça da vida.
Como você vê as discussões da Elisabeta com a mãe, Ofélia Benedito (Vera Holtz)?
O que acho genial é que a Vera Holtz não está fazendo essa mãe opressora. Na verdade, ela tem uma necessidade real de fazer as filhas sobreviverem, é genuíno dela. E a Vera faz isso com muito humor. Então, são uns embates mais ideológicos do que de briga, não são ríspidos, o que torna a família divertida. Foi uma sacada!
A obra Orgulho e Preconceito, da Jane Austen, teve várias adaptações ao longo do tempo. Você viu alguma?
Eu li o livro, preferi me basear nele e nos roteiros da novela. Mas fiquei com vontade de ver o filme. Acho que agora já dá porque gravei vários capítulos.