O relógio marca 10h30min de quinta-feira, dia 20, e o termômetro aponta apenas 7ºC em Bento Gonçalves. Na semana mais fria do ano no Rio Grande do Sul, a atriz Vitória Strada está vestida com um leve casaco marrom e ajoelhada em frente a um túmulo, improvisado ao lado do lago da Casa da Erva-Mate Ferrari, no Caminho de Pedras. A gaúcha, protagonista de Tempo de Amar, nova novela das seis da Globo que estreia em setembro, repete algumas palavras em frente à cruz, sob o olhar atento dos curiosos que se sentam na outra margem. Depois da liberação do diretor artístico, Jayme Monjardim, a artista de 20 anos sai batendo queixo e é agasalhada pela produção com mantas e com um casaco doado pelo colega de elenco Jayme Matarazzo.
– Passei em casa e peguei algumas botas compridas. Porque, imagina, vim do Rio e estava quente. Precisei pegar uns casacos para me esquentar – conta a atriz, entre risos.
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Rosto conhecido pelo filme Real Beleza (2015), de Jorge Furtado, a guria estreia na TV na pele da personagem principal do folhetim assinado por Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago, baseado em argumento do escritor Rubem Fonseca. Parte da equipe da novela – cerca de 70 pessoas – desembarcou no Estado na última terça-feira (18) para emendar uma rotina intensa de gravações, que segue até o dia 29. As locações estão centradas na serra gaúcha, passando por lugares como a estação da Maria Fumaça, a vinícola Miolo e a Villa Fitarelli.
– Poder contracenar com pessoas maravilhosas e junto do diretor que sempre admirei é a realização de um sonho. Estou focada. E é engraçado: sempre que vou filmar algo, acabo no Rio Grande do Sul – ressalta Vitória, que está em O Filme da Minha Vida (2017), de Selton Mello, também com cenas feitas por aqui.
Na verdade, a trama da próxima novela das seis não tem nada de história gaúcha. O enredo se passa no fim dos anos 1920 em uma vila fictícia em Portugal e no Rio de Janeiro. Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio Ramos (Bruno Cabrerizo) caem de amor ao se verem pela primeira vez em uma procissão, mas a paixão encontra barreiras na diferença de classes sociais. Ela, filha do influente produtor de vinho e azeite José Augusto (Tony Ramos), e ele, um rapaz simples que vive de trabalhos temporários. Com a vinda do jovem para o Brasil, o reencontro passa a mover a vida do casal. Na Serra, estão sendo filmadas as cenas da vila portuguesa.
– É um Romeu e Julieta dos anos 1920. No Rio Grande do Sul, é impressionante como as pessoas mantêm mesmo as raízes, por isso, foi uma escolha minha gravar aqui. Consigo trazer um pouco da Europa com as locações – diz Monjardim, que esteve à frente de produções como A Casa das Sete Mulheres (2003), O Tempo e o Vento (2013) e, mais recentemente, o filme O Avental Rosa, todos com imagens captadas no Estado.
Temperaturas baixas, clima caloroso nos bastidores
O casal de atores que protagoniza Tempo de Amar é desconhecido do grande público. Vitória estreia na TV, e o modelo e ex-jogador (com passagens por Botafogo e Flamengo) Bruno Cabrerizo só estrelou novelas em Portugal. Por isso, quem se aglomera para assistir às filmagens na Casa da Erva-Mate Ferrari pede encarecidamente um aceno de Tony Ramos, um dos veteranos do elenco. Vestido em uma calça que lembrava bombachas, Tony parece à vontade com as baixas temperaturas.
– É um frio bom. Melhor que a canícula tropical, a quarenta graus, com essas roupas, na cidade cenográfica – diz, rindo alto.
Para o ator, que interpreta José Augusto, pai de Maria Vitória, a novela joga luz sobre aspectos do comportamento humano, como a ganância e os segredos que cada um escolhe guardar na vida:
– Meu personagem é um homem controlador como qualquer um daquela época. Ele se culpa por ter dado uma criação liberal para a filha. Mas não posso contar mais, só que há muitos mistérios envolvendo esse homem, a filha e o amor dela por esse rapaz muito simples.
Mesmo sem cenas para o dia, Matarazzo, filho de Monjardim com Fernanda Lauer, circulava nos bastidores com um chimarrão na mão. O hábito diário, conta, foi estabelecido após o casamento com a empresária gaúcha Luiza Tellechea.
– Meu pai tem uma grande história com o Rio Grande do Sul, e contagiou toda a família. A Luiza prepara chimarrão todas as manhãs. Desde que a conheci, o chimarrão, o vinho e o churrasco cresceram em grandes proporções na minha vida – justifica.
Nesse novo trabalho ao lado do pai – eles estiveram juntos recentemente em Sete Vidas –, o ator tem um novo desafio: interpretar seu primeiro vilão. Fernão é apaixonado por Maria Vitória, e vai lutar pela jovem com unhas e dentes. Mas o personagem é movido por boas intenções, defende Matarazzo:
– Ele tem um caráter dúbio, só que é um vilão humano. É um menino que vai se perder um pouco na sua paz interior por causa de amor.