Quando o trem chega à cidade no meio da planície, é fácil identificar que se está no Oeste: a cidade é empoeirada, com ruas sem calçamento, há um saloon na rua principal. Há uma diferença, contudo, e este Velho Oeste tem menos a ver com o período histórico e mais com videogames: a cidade está povoada por seres artificiais, os "anfitriões", que estão ali para interagir em narrativas pré-programadas com os "convidados", gente de verdade que, imune a qualquer consequência, pode escolher fazer o que quiser com os autômatos. Bem-vindo a Westworld.
Refilmagem de um filme cult de ficção científica dos anos 1970 – dirigido por Michael Crichton, autor também do romance que deu origem ao longa-metragem – a série Westworld reúne grande elenco, encabeçado por Anthony Hopkins, Evan Rachel Woods e Ed Harris, em uma trama ambiciosa com a qual a HBO espera encontrar seu próximo Game of thrones. O que é interessante, porque parte do mérito da série está no questionamento sobre limites da exploração de violência e sexo no entretenimento popular – algo abundante na própria Game of thrones.
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Diferentemente do filme de 1973, um conto mais clássico de "rebelião das máquinas", a série tem uma abordagem mais complexa. Sujeitos ao mais brutal tratamento pelos "jogadores" do parque, os "anfitriões" têm suas memórias e histórias resetadas periodicamente. Mas uma atualização desenvolvida pelo criador (Anthony Hopkins, reprisando seu papel habitual de ancião distraído) para emprestar mais "humanidade" a seus personagens dá aos autômatos a possibilidade de acessar alguma memória subjetiva para criar gestos mais realistas. É o ponto de partida para o que promete ser o grande conflito da narrativa: sujeitos à crueldade gratuita, os robôs logo estarão acessando não memórias, mas o trauma constante de sua existência. O choque será inevitável.
Talvez Westworld não permaneça o mais aprazível dos destinos para seus visitantes, mas, na televisão, está oferecendo a seus outros convidados, os espectadores, uma narrativa promissora em forma e conteúdo.