Vocês me desculpem se eu trocar medalhões por medalhas, pudim por pódio, anéis de cebola por anéis olímpicos. É que:
1) A Olimpíada é o maior evento esportivo do planeta;
2) Acontece apenas de quatro em quatro anos;
3) Está sendo realizada pela primeira vez na América do Sul – e no Brasil;
4) Natural, portanto, que nos últimos dias o país inteiro só tenha olhos para isso, só fale disso;
5) O que era previsível desde 2 de outubro de 2009, quando foram anunciadas a sede e as datas dos Jogos Olímpicos de 2016.
Daí que eu realmente não entendo a falta de planejamento da Band, que fez casar com a Olímpiada justamente a reta final de seu principal reality show, um campeão de audiência, o MasterChef Brasil. Como eu escrevi noutro dia, agora acho que, de fato, teria sido mais interessante exibir dois episódios por semana ao longo de julho, para acabar antes da abertura da Olimpíada. Ou então dar uma pausa e retomar os trabalhos depois do encerramento.
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Porque, sejamos francos, a semifinal do MasterChef empalideceu-se feito chuchu diante de um dia cheio de conquistas e frustrações olímpicas. Para meu azar como brasileiro, mas minha sorte na condição de comentarista do programa, houve uma coincidência que me deu a ideia e o título para este texto. A terça-feira começou com eliminação da seleção feminina de handebol; depois tivemos mais uma decepção com Fabiana Murer, do salto com vara, e a derrota nos pênaltis da seleção feminina de futebol; à tarde, Larissa e Talita caíram na semifinal do vôlei de praia; e, de noite, o sonho do tricampeonato no vôlei feminino foi interrompido pela China. Enquanto isso, Isaquias Queiroz ganhou a prata na canoagem, e Robson Conceição foi ouro no boxe. Não era dia das mulheres na Olimpíada, não (acho que Agatha e Barbara só bateram a dupla americana Walsh/Ross no vôlei de praia porque praticamente já era quarta-feira quando o jogo começou).
O MasterChef espelhou a jornada esportiva. A primeira prova, a dos equipamentos profissionais – a saber: um defumador (pilotado por Leo), um termocirculador (Bruna) e um sifão (Raquel) –, foi vencida pelo único homem na disputa, e as duas mulheres desapontaram os jurados. Especialmente Raquel: Paola detonou seu tartar de robalo com espuma de moqueca (que me lembrou o mingau de farinha láctea Nestlé da minha infância):
– Esse prato tem mais conceito do que sabor. A espuma está um pouco forte em temperos, e o peixe tem gosto de nada.
O bacana dessa prova foi ver e ouvir os chefs dando lições sobre aqueles equipamentos, mostrando o arsenal de técnicas de que cozinheiros podem dispor. O intrigante foi ver os jurados experimentando a pera da Bruna antes dos pratos salgados do Leo e da Raquel – minha mãe cobraria: sobremesa antes, como assim? O xarope foi ouvir a Raquel, nos depoimentos, tentando ser espirituosa, engraçada – definitivamente, humor não é a praia dela.
A prova de eliminação teve início às 23h44min. À essa altura, a partida entre Brasil e China pelo vôlei feminino já provocava calafrios na torcida. Esperava-se sentimento parecido do duelo feminino no MasterChef, que consistia em preparar King Crab, um caranguejo gigante que mora em águas profundas, não existe no Brasil e é caro pra caramba. Mas não me emocionei. Aquela hora final do programa arrastou-se como se fosse um jogo de hóquei sobre a grama.
Antes da decisão sobre quem disputaria a final contra Leo, Ana Paula Padrão recuperou o histórico de vitórias e derrotas de Bruna e Raquel ao longo da terceira temporada. Os números positivos foram bastante parelhos, mas achei reveladora a estatística negativa: Raquel ficou quatro vezes entre os piores; Bruna, apenas uma vez. A matemática confirmou minha sensação de que, entre as duas mineiras, a comida da Bruna parece ser bem mais saborosa – e prenunciou a eliminação de Raquel.
O ponto final de um dia ruim para as mulheres foi um comentário dispensável de Jacquin: ao elogiar as habilidades das duas concorrentes, o francês não disse que elas estavam prontas para assumir o comando de um restaurante, mas, sim, que estavam prontas para casar... Podíamos ter dormido sem essa, né? Aliás, já não vejo a hora de dormir nas noites de terça-feira.
P.S. 1: no episódio anterior, a tarefa era cozinhar um polvo gigante. Na terça-feira, foi a vez de preparar um caranguejo gigante. Pela lógica, a final deveria ter uma baleia.
P.S. 2: será que teremos aqueles tuiteiros chatos no últimos episódio?
P.S. 3: Izabel, Raul, Jiang, Cristiano. Acho que qualquer um venceria com uma mão nas costas Leo e Bruna.