Quem visita escola de samba em junho?
Só o MasterChef Brasil.
Só que não: se restava alguma dúvida de que o programa é gravado com bastante antecedência, essa sombra foi dissipada pelo sol de verão do episódio exibido nesta terça-feira. A prova de equipe foi disputada na quadra da Portela, no Rio, onde as mangas de fora e o chapéu na cabeça de jurados e competidores deram a entender que aquele churrasco para a Velha Guarda da agremiação aconteceu na estação passada. (Gauchada nervosa: já falaremos do churrasco.)
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Essa antecedência, como quase tudo na vida, tem um lado bom e um lado ruim. O ponto positivo é que, assim, Jacquin, Paola e Fogaça estão imunes da influência externa. Pouco importa se tal candidato é popular ou impopular: a audiência não tem poder algum quanto ao destino deles; o que conta – ou o que deveria contar – é a comida no prato.
O ponto negativo é justamente o fato de que Jacquin, Paola e Fogaça estão no escuro em relação às simpatias do público – vão tateando, intuindo que a gente goste desse participante ou daquele. Parece-me claro que os três chefs deixaram-se seduzir pela ideia de que Gleice é a concorrente pela qual todos iríamos torcer, graças a sua história de vida e a sua personalidade: origem humilde, irmão assassinado às vésperas de entrar no programa, o jeitão aberto de encarar as coisas, traduzido no bordão "Vem ni mim".
Aliás, "só que não" é uma definição adequada para o churras servido na Portela. Teve amigo meu subindo pelas paredes do Facebook com alguns sacrilégios – como o salsichão fervido, o pão de alho feito com pão de sanduíche e o acompanhamento de molho asiático para a picanha. Não à toa, quando a Ana Paula Padrão perguntou para os convivas sobre do que tinham gostado, os elogios foram para o molho de pimenta e para a farofa de banana com bacon (mas essa eu também fiquei com vontade de provar). A picanha e o salsichão, que deveriam ser mestre-sala e porta-bandeira, foram solenemente ignoradas na dispersão.
Ganhou, numa briga acirrada, a equipe bem chefiada pelo Fernando, e aí Gleice (que pareceu uma boa líder) e sua turma precisaram trocar salgado por doce na prova de eliminação. Como visto ao longo de quase todos os episódios desta temporada, ficou patente a inferioridade técnica dos competidores em relação a seus antecessores. Dá para dizer que apenas duas participantes apresentaram trufas dignas, a Luriane (salva pelo jurado convidado, o dono da Cacau Show, que estava bem saidinho nos seus comentários) e a Bruna (que vem jogando na defensiva: disse que nunca tinha feito trufa, o que alguns de seus rivais não engoliram, e o que os chocolates preparados por ela, delicados e bonitos, desmentem). O resto foi de fechar a caixinha, devolver e pedir o dinheiro de volta.
E quem ficou entre os dois piores? Gleice, como de hábito, e Rodrigo, que, até o churrasco, nunca havia perdido uma prova de equipe. O dono da Cacau Show chegou a arregalar os olhos quando viu as trufas de Gleice – com destaque para sua gigantesca folha de hortelã. Mas ela tem uma "sorte" desgraçada: Rodrigo cometeu um pecado mortal ao usar creme de avelã pronto. O policial militar carioca pediu para sair.
Botei aspas em sorte porque, convenhamos, é demais o protecionismo dos jurados para com Gleice. Na semana passada, eu engoli minhas palavras sobre a estudante paulista, que realmente se superou e brilhou na repescagem. Mas nesta terça-feira ela voltou ao normal; voltou a mostrar suas deficiências; e voltou a merecer a condescendência de Jacquin, Paola e Fogaça. A sensação que tenho é de que, dessintonizados da percepção do público, os chefs realmente acreditaram que seria bom para o programa ter uma coitadinha, que haveria uma identificação do público com a guria. Mas, assim que o perfil oficial do MasterChef Brasil no Facebook postou a eliminação do Rodrigo, pipocaram comentários criticando a permanência de Gleice. Tive que rolar bastante a tela para que surgisse alguém não necessariamente defendendo a estudante, mas considerando justa a saída do policial. O tiro dos jurados parece ter saído pela culatra. Ou não. O trio pode ter sido maquiavélico: manter Gleice para ter uma candidata a ser odiada, ainda que não por maldade dela – apenas por ruindade.
P.S. 1: Paula. Cantando. Samba.
P.S. 2: Paula. Sambando.
P.S. 3: Paula.