Aos 60 anos, a cantora Margareth Menezes deve assumir o Ministério da Cultura para repetir a fórmula que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), utilizou em seu primeiro mandato, quando contou com um artista na pasta — Gilberto Gil, entre 2003 e 2008. Antes, ela já fazia parte da equipe de transição de governo.
Na última terça-feira (13), Margareth aceitou o convite de Lula para ser ministra da Cultura. Ela comentou com a imprensa que o presidente quer elaborar um ministério "forte".
— Conversamos e eu aceitei a missão. E recebo isso como uma missão mesmo, até porque foi uma surpresa para mim também, até para eu entender o lugar desta minha representação e a necessidade de a gente fazer uma força-tarefa para levantar o Ministério da Cultura — ponderou.
Natural de Salvador (BA), Margareth é a mais velha entre os cinco filhos da doceira e costureira Diva e do motorista Adelício. Na infância, ela fez parte do coral de Boa Viagem, bairro onde cresceu. Apaixonada por música desde pequena — seus pais costumavam reunir a família em volta do aparelho de som para ouvir nomes como Clara Nunes e Jackson do Pandeiro —, ganhou seu primeiro violão na adolescência. Foi nessa época em que ela iniciou a carreira artística, mas como atriz.
Ainda na escola, com o grupo teatral do Centro Integrado de Educação Luiz Tarquínio, na Boa Viagem, que Margareth começou a atuar. Ela também teve aulas com Reinaldo Nunes, ator e diretor teatral que fundou a Companhia Baiana de Comédias, pioneira no Estado.
Na primeira metade dos anos 1980, atuou em peças como Ser Ou Não Ser Gente (1980), Máscaras (1982), O Inspetor Geral (1982) e O Menino Maluquinho (1984). Em 1983, Margareth participou da criação do espaço Gran Circo Troca de Segredos, que impulsionou a cena cultural de Salvador. O local abrigou apresentações musicais e espetáculos de teatro.
A partir da segunda metade da década, Margareth começa a focar em seu talento para a música, com apresentações em bares da capital e cidades do interior baiano, além de participar do Projeto Pixinguinha no Teatro Castro Alves. Seu primeiro show solo, Banho de Luz (1985), rendeu o Troféu Caymmi de melhor intérprete.
Seu primeiro disco homônimo sairia em 1988, acumulando 16 álbuns entre trabalhos de estúdio e ao vivo. Ao longo de sua trajetória, Margareth se consolidou como uma das precursoras e um dos nomes mais importantes do axé music. Em sua lista de principais sucessos estão Faraó — Divindade do Egito, Dandalunda, Me Abraça e Me Beija, Ifá — Um Canto pra Subir, Elegibô (Uma História de Ifá), entre outros.
Tendo realizado mais de duas dezenas de turnês internacionais, ela foi descrita mais de uma vez pela crítica internacional como "Aretha Franklin Brasileira". É apontada como principal representante do movimento afropop brasileiro, que visa preservar e promover a cultura negra no país.
Além da música, Margareth também tem trajetória como gestora cultural. Ela fundou a Fábrica Cultural, em 2004, que iniciaria as atividades quatro anos depois. Trata-se de uma organização não-governamental com a finalidade de desenvolver projetos nas áreas de educação, cultura e produção sustentável na Península de Itapagipe, em Salvador. A partir de 2014, a ONG passou a abrigar o centro cultural Mercado Iaô, que promove música, artes visuais e gastronomia.
Margareth também é embaixadora do Folclore e da Cultura Popular do Brasil pela IOV/Unesco, tendo sido empossada em 2020. No ano seguinte, ela foi reconhecida como uma das cem personalidades negras mais influentes do mundo pela Most Influential People of African Descent (MIPAD), instituição reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU).