Após a morte da mãe, a rainha Elizabeth II, na quinta-feira (8), Charles III assumiu o comando da realeza britânica. O novo rei, porém, não é muito querido entre os súditos — uma pesquisa do YouGov feita em maio deste ano mostrou que ele contava com 54% de opiniões favoráveis, bem menos do que sua mãe (81%) e que seu filho William (75%). Algumas das razões para essa impopularidade podem ser observadas na forma como o novo rei é retratado na ficção.
Seja na série The Crown, que aborda o reinado de Elizabeth II, ou no recente filme Spencer, que se atém aos dramas pessoais da princesa Diana, Charles costuma ser um personagem coadjuvante. Pior: recai sobre ele, na maioria das vezes, a culpa pelo fim trágico da ex-esposa.
O retrato na série da Netflix inclusive já teria gerado um comentário irônico de Charles. No mês passado, o líder do partido trabalhista da Escócia Anas Sarwar disse que o herdeiro da rainha Elizabeth se apresentou a ele da seguinte maneira:
— Olá, é um prazer conhecer todos vocês. Não estou nem perto da forma como me mostraram na Netflix.
Frio e infiel
Em The Crown, Charles ganha mais importância na quarta temporada, que mostra a chegada da princesa Diana à família real e os problemas enfrentados por ela depois que o conto de fadas começa a desandar em uma relação fria e problemática. Na interpretação do ator Josh O’Connor, o filho mais velho da rainha é egoísta, imaturo e frequentemente despreza a esposa.
Para começar, o príncipe se casa com Diana por pura obrigação, em meio à desaprovação da família real sobre seu verdadeiro amor, Camilla Parker Bowles. Em busca de uma "princesa ideal", ele depara com a jovem e inocente Lady Di enquanto cortejava a irmã mais velha dela. Desde as primeiras interações entre os dois, fica claro que Charles não a ama.
Na série, o romance entre os dois é puramente protocolar para Charles. Na proposta de casamento, por exemplo, ele não corresponde quando Diana diz que o ama — algo que foi confirmado anos mais tarde na biografia Diana: Sua Verdadeira História em Suas Próprias Palavras, escrita por Andrew Morton com base em fitas gravadas pela princesa.
Em outra cena, logo antes do casamento, Diana descobre que Charles tem um caso com Camilla ao encontrar um bracelete gravado com as iniciais "G e F" (que significavam "Gladys e Fred", apelidos que os amantes deram um ao outro) no escritório do noivo. No mesmo episódio, ele passa três semanas viajando sem ligar para Diana e, por conta disso, logo depois, ela tem seu primeiro episódio de bulimia.
A relação só azeda ao longo da temporada. Em uma cena, Charles liga para Camilla e chega a chamar Diana de "patética". Em outro momento, o príncipe dá um show de infantilidade ao confessar, durante uma discussão, que sente ciúmes da atenção que ela recebe da imprensa, ao passo que ele é desajeitado e desengonçado em frente às câmeras. Para complicar, ele começa a duvidar do caráter de Diana, chegando a mandar "seus homens" espionarem a princesa para descobrir se ela está traindo ele.
Incompreensivo
Em Spencer, outra faceta da relação é abordada: a incompreensão de Charles com os sentimentos de Diana. Estrelado por Kristen Stewart e ambientado no Natal de 1991, o longa mostra a princesa no limite da pressão, um ano antes de pedir o divórcio. Ao mesmo tempo em que não consegue cumprir os protocolos reais, a Lady Di fictícia não tem no marido o ombro amigo de que precisa.
— Você age como um bebê que não é mimado o suficiente — diz o personagem vivido por Jack Farthing, em uma cena em que "joga na cara" da esposa todas as insatisfações dele com ela.
Ele reclama que Diana se atrasou para a celebração em família, que o trai (mesmo admitindo que faz o mesmo) e que se deixa expor propositalmente. Ao mesmo tempo, o príncipe revela que também odeia os compromissos reais. Mas ele está conformado — e pede o mesmo da mulher:
— Você tem de seguir os protocolos à risca do jeito que eles foram escritos.