Quem passou pela área próxima à Usina do Gasômetro, na tarde deste domingo (7) frio e nublado, poderia até pensar em ter caído no “aranhaverso”. Ou seja, uma realidade paralela do multiverso da Marvel infestada por cerca de duas dezenas de versões do Homem-Aranha. Era quase isso: tratava-se do Aranhaverso 2022, primeiro encontro gaúcho de cosplay de personagens das histórias do super-herói aracnídeo.
O evento foi organizado pela Embaixada Aracnídea RS, que foi criada por Vagner Rhodes, e tinha como finalidade celebrar os 60 anos da primeira aparição do Homem-Aranha — o que foi completado no dia 1º de agosto. O grupo é formado por fãs de diferentes cidades do Estado, que, por meio de um grupo de WhatsApp, trocam informações sobre o personagem da Marvel e organizam ações — o que já incluiu até compra de uniforme para uma criança em tratamento de câncer. Não foi diferente neste domingo: a reunião aracnídea também estava arrecadando alimentos para doação.
Além de diferentes versões de Homem-Aranha em diferentes corpos, marcaram presença cosplays de personagens como o advogado cego Matt Murdock (Demolidor), o editor-chefe John Jonah Jameson — dono do jornal nova-iorquino Clarim Diário, que vive tentando descobrir a identidade do aracnídeo —, Deadpool e até o Líder da série coreana Round 6. Embora não seja um personagem desse universo Marvel, foi o jeito que Alex Fontoura, integrante do grupo de cosplay República dos Heróis, encontrou de dar uma força ao evento.
Postados próximos à chaminé do Gasômetro e com uma caixa de som que reproduzia músicas relacionadas ao Homem-Aranha e soul music, os cosplayers se tornaram uma sensação no local. Os transeuntes os abordavam a cada minuto para tirar foto. Os pedidos eram feitos tanto por crianças quanto por adultos — independentemente da idade, saíam com sorriso no rosto. Um círculo de curiosos e admiradores se formou ao redor dos participantes, que interpretavam poses de seus personagens.
Morador de Porto Alegre, Rhodes é o criador do grupo e idealizador do encontro. Aos 39 anos, ele vestia um cosplay do Homem-Aranha de Miles Morales — com seu headphone, moletom verde, bermuda e tênis Nike Air Jordan sob o uniforme preto e vermelho. Adolescente negro e latino, Miles trouxe uma representatividade muito importante para o personagem, como frisa o organizador. E mais fãs pensam o mesmo: na mesma tarde, a reportagem de GZH contou quatro Miles no encontro.
O organizador estava acompanhado de seus dois filhos — Pedro, nove anos, e André, sete —, que também vestiam cosplay de Homem-Aranha. Há mais de 30 anos Rhodes é fã do personagem, que o ajudou em sua alfabetização e socialização na infância. Para ele, é fácil se identificar com Peter Parker, a identidade original por trás da máscara.
— Diferente de Super-Homem e outros personagens, que têm uma aura de invencibilidade ou de estarem acima das pessoas, o Homem-Aranha é aquele que tem que pagar aluguel. Trabalha como fotojornalista e tem que estar vendendo foto para se sustentar — analisa Rhodes. — Não é aquele herói que vence de maneira fácil, geralmente acaba todo esfarrapado. Ele é aquele que sofre e tem dificuldades, mas mesmo assim não desanima. É fácil pensar: “Pô, eu poderia ser esse cara”.
Pelo que se pode observar no encontro, a identificação com Peter Parker é algo que transcende o gênero. A adolescente ruiva Brenda Cristini Brasil, 16 anos, veio de Cachoeirinha acompanhada de seu tio, Charles. Ela vestia uma roupa do Homem-Aranha, porém sem a máscara. Para a jovem, o que a inspirou a gostar do aracnídeo e a realizar o cosplay foi encontrar nele semelhanças de sua personalidade.
— Ao ver os filmes da Marvel, eu não conseguia me identificar com as meninas, mas sim o Peter. Ele é mais descolado e atrapalhado, que nem eu. Sempre é engraçado — descreve.
Além da identificação, é possível observar laços mais profundos com o personagem. Morador de Gramado, Eduardo Lucas trabalha fazendo cosplay de Homem-Aranha no município da serra gaúcha. Além do uniforme, o fã de 31 anos portava uma mochila com o formato do herói.
Musculoso, Eduardo poderia ser um Peter Parker que toma whey no Aranhaverso. No encontro, ele fazia barra com facilidade em um suporte de ferro suspenso na chaminé. Segundo Eduardo, há muito o que se aprender com o personagem.
— Quando tinha 27 anos, queria muito fugir de uma depressão, e com o cosplay consegui vencê-la — relata. — Homem-Aranha é um perdedor como a gente. Tem vezes que dá tudo errado para nós, seja em emprego ou relacionamentos. E Peter passa por esses problemas que temos. Mas ele usa isso para se superar e vencer, mesmo com tudo desfavorável.