Aos 80 anos, morreu no início da manhã deste domingo (23), em Porto Alegre, o músico e compositor João Palmeiro, também chamado de João da Benga. De acordo com familiares, a causa da morte foi um mal súbito.
Conhecido como o “Tom Jobim gaúcho”, João teve importante influência no cenário musical do Rio Grande do Sul, destacando-se como um dos principais nomes da bossa nova no Estado. Conheceu o gênero ainda jovem, no fim da década de 1950, compartilhando o gosto musical com amigos que se reuniam para ouvir música no bairro Menino Deus. Na década de 1960, integrava o grupo Canta Povo, ao lado de Mutinho, Ivaldo Roque, Giba Giba e as irmãs Sílvia e Laís Marques.
Na sua trajetória, escreveu canções como No tempo (em parceria com Robson Barenho) e O Orvalho e a Rosa (em parceria com Mutinho). Em seu terceiro disco, de 1963, Elis Regina gravou uma música de João, Formiguinha Triste – identificada no disco como sendo da autoria de “Joãozinho”.
O Canta Povo acabou se dissolvendo e, por quase três décadas, João não tocou mais em público ou gravou músicas, um hiato interrompido em 1995 com Águas Abertas, disco lançado pela prefeitura de Porto Alegre, com 18 canções. O CD teve participações de artistas como Luiz Carlos Borges, Glória Oliveira, Zé Caradípia e Renato Borghetti, que lembra do trabalho do amigo e colega de profissão como uma música complexa.
— É uma música que todos deveriam conhecer. Até hoje, aqui no Sul, eu não vi ninguém fazer parecido. Ele não tinha uma linha regionalista, não era música popular gaúcha e nem samba, mas ao mesmo tempo era tudo isso junto. Ele tinha uma forma muito particular de compor. Uma figura maravilhosa, que deixa de legado essa música que pouca gente conhece, complexa, bem feita e linda.
Na época, uma reportagem de Zero Hora escrita pelo então repórter e editor Juarez Fonseca, hoje colunista, que divulgava o lançamento, descreveu-o como “apenas o maior compositor que a bossa nova já produziu no Sul do país. Um músico refinado e inventivo, um letrista sensível e talentoso. As suas canções marinhas, principalmente, estão dentre as melhores que já se produziu no gênero no Brasil.”
Nascido em 1941, no Rio de Janeiro, o músico iria completar 81 anos em abril. De família de gaúchos, João ainda viveu em Pernambuco antes de vir ao Sul, aos 14 anos, após o falecimento do seu pai. Em sua trajetória, Santa Catarina também foi um local importante, onde se apaixonou pela cidade de Garopaba, sendo um dos primeiros gaúchos a desbravar o local.
Chegou a viver em terras catarinenses entre as décadas de 1970 e 1980. Em 2014, João recebeu o título de cidadão honorário e, em dezembro de 2021, nas comemorações de 60 anos de emancipação do município, foi homenageado. Isso porque a cidade litorânea serviu de inspiração para suas composições e a vida na praia deu luz a algumas canções.
— A minha base musical está em Tom Jobim e João Gilberto, o que aprendi com eles botei na música dos pescadores — disse o músico a Juarez Fonseca na reportagem de 1995.
João Palmeiro está sendo velado em Porto Alegre neste domingo (23), até às 18h, no Cemitério Crematório Saint Hilaire. Ele deixa a neta Caroline Capela, que se considera filha do coração do músico.