Uma coleção de quase mil peças, que remonta a história da Revolução Farroupilha, finalmente, cumpriu seu destino profético e foi transferida para sua nova casa, o Museu Histórico Farroupilha (MHF), em Piratini, localidade que foi a primeira capital da República Rio-Grandense. O translado dos itens doados à Secretaria Estadual da Cultura (Sedac) foi iniciado na manhã desta segunda-feira (19).
As 30 caixas necessárias para acondicionar a coleção saíram do Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), na Capital, e vão percorrer quase 350 quilômetros até seu destino. A previsão é de que os objetos comecem a ser desembarcados da caminhonete às 15h30min desta tarde.
Essa megaoperação, que envolve até mesmo a escolta da Brigada Militar, só foi possível por causa de um gaúcho sonhador chamado Volnir Júnior dos Santos. Mais conhecido como TcheVoni, o empresário, radicado no Rio Grande do Norte, garimpou um riquíssimo acervo de itens ligados à Revolução Farroupilha ao longo dos últimos 20 anos e literalmente sonhou que os artefatos deveriam ser doados ao MHF.
Em janeiro de 2020, GZH contou essa história. TcheVoni é um apaixonado pela revolução, daí, surgiu a motivação para começar a construir uma coleção de livros raros, peças de armaria – como espadas e balas de canhão –, documentos, moedas entre outros itens comemorativos do período. Nestas duas décadas, foram encontradas 988 peças. O empresário chegou a cogitar a construção de um museu em Gramado, mas um sonho um tanto trágico, no qual ele morria, indicou o que deveria ser feito.
Em entrevista à RBS TV, de Pelotas, ele afirma estar contente com o novo lar do acervo e faz um pedido:
— Os fragmentos da República rio-grandense estão de volta a sua casa, ao prédio que foi o Ministério da Guerra farrapa contra o Brasil. Que agora, com essa doação de artefatos, ele se transforme em um ponto turístico para a região e que a gauchada visite Piratini — diz o empresário.
Para Eduardo Hahn, assessor especial de Memória e Patrimônio da Sedac, ao contatar o governo do Estado para realizar a doação da coleção, TcheVoni contribuiu para preencher lacunas da história sul-rio-grandense.
— Esses itens incorporam informações importantes da história gaúcha. Com esses objetos conseguiremos ter condições de contar a história da Revolução Farroupilha de maneira mais completa. Demos um salto muito grande com essa doação. Saímos de 600 itens que existem no MHF para quase 1.600 — pontua.
Entre os itens que compõem o acervo, Hahn destaca a presença de uma carta escrita à mão e assinada por Giuseppe Garibaldi. O conteúdo do bilhete ainda não foi desvendado, porque a caligrafia é um tanto antiga e o italiano, rebuscado. Há ainda um passaporte Farroupilha rio-grandense e moedas cunhadas no período da república gaúcha. Além disso, há moedas do momento em que o Rio Grande do Sul estava sob influência espanhola e álbuns de figurinhas comemorativos dos cem anos da revolta.
Durante um ano, a Sedac catalogou todos os objetos. Neste meio tempo, em 2019, o MHF foi contemplado com R$ 100 mil e promoveu a compra de novo mobiliário expositivo, reforma na parte elétrica, de iluminação e no sistema de alarme e de monitoramento por câmeras. Para abrigar o montante de objetos foram construídas ainda duas novas reservas técnicas no museu, diz Hahn.
O conjunto de artefatos, que recebeu o nome de Coleção TcheVoni, será organizado em exposição na nova casa, e a previsão é de que, em setembro, será inaugurada uma exposição aberta ao público, com a presença do doador, se as condições sanitárias do Estados permitirem conta assessor especial de Memória e Patrimônio da Sedac:
— TcheVoni se tornou uma pessoa representativa dentro do contexto do Rio Grande do Sul, porque possibilitou, com essa doação, que a população tenha acesso a informações que constituem a identidade gaúcha. O que ele fez é ímpar, jamais vi algo parecido.