Dizem que "ser mãe é padecer no paraíso". E ser pai? Como criar filhos em um mundo dominado pela tecnologia, encarar uma pandemia e tentar driblar os conflitos de gerações? Quatro pais famosos debateram estas e outras questões em um bate-papo descontraído na tarde de quinta-feira. Cada um na sua casa, mas com muitas experiências em comum, Lúcio Mauro Filho, Caco Ciocler, Hélio de la Peña e Malvino Salvador refletem sobre a situação atual.
Caco conta que foi pai muito cedo, mas que a experiência real foi fundamental para aprofundar seus trabalhos na ficção:
— Com a paternidade, acessar algumas emoções, na carreira, ficou mais fácil. Em todos os níveis: alegria, tristeza, saudade, amor. Desde que meu filho nasceu, virei um ator melhor — revela o ator, pai de Bruno, 23 anos, e avô de Lis, de dois.
Pai de três meninas (Sofia, de 11 anos, Ayra, de cinco, e Kyara, de três) e à espera de um menino, Malvino concorda com o colega e ressalta que a paternidade ajudou muito no trabalho de ator.
— Para nós atores, as ferramentas que vamos adquirindo ao longo da carreira, tem muito a ver com as nossas vivências. Existe associação com as nossas experimentações, com o que a gente vive. Em Fina Estampa (2011), eu tinha acabado de ser pai da minha primeira filha, então, conseguia acessar matizes diferentes da relação e acessar as emoções de uma forma mais genuína.
Lucinho tem experiências distintas no que diz respeito à paternidade. Pai de Bento, 16, e Luiza, 15, ele e a esposa Cíntia levaram um "susto maravilhoso" quando chegou a pequena Lis, hoje com dois anos. Em Malhação – Viva a Diferença, viveu a loucura de ser pai de uma adolescente grávida, ou seja, foi pai e avô logo nos primeiros capítulos.
— Foi uma experiência além das artes. Havia ali várias lições para a minha vida, foi muito legal fazer Malhação numa época em que eu estava com meus filhos chegando à adolescência. Não só a bagagem que estava sendo colocada na dramaturgia, e pude usar com meus filhos, nas conversas, como levei muito da minha relação com a minha filha real para a minha filha Keyla, de Malhação. Nos tornamos amigos, assim como sou amigo da minha filha — disse o intérprete de Roney.
Pai de Joaquim, de 28 anos, João, de 18, e Antonio, de 16, Hélio destaca que a paternidade é muito mais do que dar carinho e educar.
— É natural que a gente queira ser sempre melhor. Dosar autoridade com afeto, o papel do pai e o papel do educador. E educador nem sempre é ser o brother da galera. Mas acho que nós, pais modernos, temos que pedir menos elogios, valorizar menos o que fazemos.
O "pai moderno", defende Lúcio, deve ser participativo na criação dos filhos, papel que geralmente cabe mais à mulher. Mas ele garante que as coisas estão mudando em várias famílias:
— O homem está sempre na dívida e essa continua sendo uma busca. A cada geração, nascem novos pais mais preocupados em dividir as tarefas, as funções. É natural dos tempos, mas homem é assim: a ficha cai mais devagar, mas cai.
Paternidade na ficção
Um dos assuntos abordados durante a conversa foi o tipo de pai que permeia a ficção. Os atores acreditam que sempre é possível abordar novas formas de paternidade. É o caso do personagem de Lucinho em Malhação. Roney é um homem viúvo que assumiu sozinho a educação da filha. Ao longo da trama, descobre que tem outro filho, um jovem gay, situação com a qual tem certa dificuldade em lidar.
Malvino lembrou a experiência de interpretar Agno, em A Dona do Pedaço (2019) Homossexual, precisa lidar com a rejeição da filha adolescente, Cássia (Mel Maia).
— Tive muitas cenas bonitas, que eu acredito mesmo que possam ter feito diferença para as pessoas que estavam assistindo. A filha não aceitava o pai e ela foi cedendo por conta do amor. Foi excelente entrar num universo completamente diferente.