SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mulheres negras não foram responsáveis pela direção de nenhum filme de grande público no Brasil de 1995 a 2018, segundo pesquisa divulgada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, o Gemaa.
O estudo traçou o perfil dos dez filmes brasileiros campeões de bilheteria durante esses anos e observou que, das 240 obras analisadas, nenhuma foi dirigida ou roteirizada por uma mulher de raça preta ou parda. Além disso, elas representam 4% dos elenco destes longas.
Em 2019, ano que não foi abarcado pelo estudo, nenhum dos dez filmes com maior público tampouco foi dirigido por uma mulher negra.
O dado é sintomático das desigualdades de raça e sexo na indústria cinematográfica, segundo as conclusões do estudo.
Homens pretos e pardos são 2% dos diretores, 3% dos roteiristas e 13% dos personagens, enquanto as mulheres brancas são responsáveis por 21% das direções e 34% dos roteiros e aparecem em 34% dos papéis na tela.
Homens brancos dirigiram 84% dos filmes de mais alta bilheteria e escreveram 74% dos roteiros. Além disso, são 49% do elenco principal desses filmes.
"Os longas-metragens que possuem melhor desempenho nas salas de cinema circulam uma imagem inconsistente do país, muitas vezes estereotipada, que não tende a espelhar de maneira positiva a diversidade existente em nosso território", conclui a pesquisa do Gemaa.
O estudo ainda afirma que o lugar do negro no cinema nacional pouco mudou durante os últimos 20 anos. Os editais de fomento à diversidade chegaram a ser criados na Ancine, segundo o texto. "Mais recentemente, contudo, a eleição de Jair Bolsonaro gerou o fechamento das instâncias do governo às pautas de inclusão de negros e mulheres."