Quando Claes Oldenburg, amplamente conhecido como o pai da pop art, ficou sabendo que um visitante de seu estúdio na ponta oeste do SoHo, em Nova York, queria ver desenhos da terra ficcional que o artista inventou quando criança, ele disse, de forma brincalhona: "Finalmente!"
Agora, aos 90 anos, desculpando-se por se sentar porque "meus joelhos não são confiáveis", Oldenburg começou a examinar scrapbooks – que ele começou a criar aos oito anos – da ilha imaginária chamada Neubern, uma nação completa, com bandeira própria e escudo, força aérea, cinemas, navios de batalha, hotéis e jornal. "O melhor da ópera por Oldenburg", leu em voz alta a manchete de uma primeira página meticulosamente desenhada.
"Faz bastante tempo que não olho tudo isso", revelou Oldenburg, que é mais conhecido por suas esculturas públicas monumentais de objetos e alimentos comuns, incluindo uma cereja gigante equilibrada em uma colher, localizada no jardim das esculturas no Centro de Artes Walker em Minneapolis, e um carimbo colossal que está em Cleveland. "Acho que já era bom desde o começo", acrescentou.
O admiravelmente bem construído mundo de Neubern, um presságio da sensibilidade aguçada do futuro artista aos ambientes construídos pelo homem e à cultura popular, faz parte do vasto arquivo de Oldenburg recentemente adquirido pelo Instituto de Pesquisa Getty, em Los Angeles, junto com os trabalhos de Coosje van Bruggen, segunda esposa do artista e sua colaboradora de 1976 até morrer, em 2009.
Incluídos no arquivo estão mais de 2.000 desenhos e colagens, 450 diários e cadernos e uma coleção de fotografias e filmagens documentais, a maioria ainda inédita para o público.
Oldenburg liderou um tour intimista por esses artefatos, que estão abrigados nos cinco andares do edifício industrial em que mora e trabalha desde 1971.
Acompanhado pela filha, Maartje Oldenburg, e por Glenn Phillips, curador e diretor do acervo moderno e contemporâneo no Instituto de Pesquisa Getty, o alto e cortês artista de origem sueca se locomovia deliberadamente com uma bengala. Auxiliado pela filha em algumas lembranças, ele operava o painel de controle do elevador de carga como um capitão comanda seu barco, dizendo aos visitantes a cada parada que "pode ser um pouco difícil aqui quando você descer".
Ele mantém uma coleção de diários manuscritos ininterruptamente desde 1956, ano em que se mudou para Nova York, vindo de Chicago. Eles captam a inspiração encontrada pelo artista na vida sombria das ruas, o que ele comia e os muitos artistas – incluindo Jim Dine, Red Grooms, Lucas Samaras e a primeira esposa, Patty Mucha – com os quais colaborava em apresentações e exposições.
Ele também manteve diários intitulados "Notas", recheados de ideias artísticas digitadas em uma máquina de escrever de 1926. "Essencialmente, minha arte é cômica – uma comédia séria, absurda... irreverente... erótica... moralista", diz uma passagem do início dos anos 1960.
Phillips estava fascinado com a maneira como os registros escritos amplificavam as ideias visuais que Oldenburg estava rascunhando em folhas de caderno separadas, normalmente arrancadas de pequenos blocos que ele carregava no bolso.
"Nunca vi um artista registrar seu processo de raciocínio tanto quanto Claes. Você tem todas aquelas coisas paralelas lado a lado, por isso um acadêmico pode provavelmente encontrar a origem de cada ideia que Claes teve e acompanhá-la até a conclusão do trabalho", descreveu.
Em uma passagem de "Notes" do começo da década de 70, Oldenburg escreveu: "Desenhos, para mim, são o campo de batalha do meu ser."
Ao olhar para o esboço de um ponto de interrogação de ponta-cabeça sobre um skate, proposta não aprovada para uma escultura pública a ser instalada do lado de fora do Palácio de Reichstag, em Berlim, logo após a reunificação, no início dos anos 90, o artista disse: "Eu tinha me esquecido completamente disso." Ele riu enquanto examinava outro desenho, nunca visto pelo público, de nuvens de batatas assadas e um projeto para um túnel em formato de nariz.
Oldenburg está editando um livro de quatro volumes contendo mil páginas de desenhos desses cadernos, a ser publicado no ano que vem pela Hatje Cantz. Seu pai sempre passou muito tempo "organizando, arquivando, editando, descartando. Talvez seja daí que nascem as faíscas criativas, por meio desse processo", opinou Maartje, a filha de Oldenburg.
Ao ser perguntado se ainda mantinha algum tipo de registro diário, Oldenburg respondeu: "Tenho tentado muito fazer isso, mas é difícil para mim. Você envelhece e realmente não consegue mais fazer essas coisas. Mas ainda estou tentando."
Ao observar como o artista se alegrou durante o tour pela casa, imaginei se haveria um custo emocional de ver todo esse trabalho partir para um novo lugar. "Estou numa fase em que posso aceitar esse tipo de coisa", afirmou.
Essa atitude realmente dá à coleção uma segunda vida [...] A filosofia de Claes sempre foi a de jogar o trabalho no mundo.
MAARTJE OLDENBURG
filha de Claes
Maartje esclareceu que a ideia de preservar o trabalho no espaço em que habitavam não soou adequada nem para ela nem para o pai. "Essa atitude realmente dá à coleção uma segunda vida", ponderou a filha. "A filosofia de Claes sempre foi a de jogar o trabalho no mundo", acrescentou. "Coosje compartilhava dessa ideia", disse, referindo-se à mãe. "Fico feliz com o fato de que ela está recebendo mais atenção agora."
O arquivo foi comprado de Oldenburg por um preço abaixo do valor de mercado, disse Phillips, mas se negou a revelar o preço. A escultura "Clothespin Ten Foot", criada por Oldenburg em 1974, foi vendida por mais de 3,6 milhões de dólares (13,7 milhões de reais) em um leilão em 2015.
"Você pode observar quase todos os movimentos artísticos [do pós-guerra] nos Estados Unidos e Claes Oldenburg conversa com eles – performance, pop, minimalismo, pós-minimalismo, arte conceitual, instalações artísticas, pós-modernismo", afirmou Phillips.
Lisa Freiman, curadora independente que escreveu uma tese de doutorado sobre Oldenburg, descreveu os arquivos como "sem precedentes" em valor histórico para os estudiosos. "Acredito que eles serão considerados a pesquisa primária mais importante sobre a história da arte dos anos 60 e 70. O acesso público vai revelar uma narrativa completamente diferente sobre Claes Oldenburg. Toda a obra dele dos anos 60 estava vindo do neossurrealismo e do interesse pelo inconsciente", refletiu.
Maartje disse que seu pai estava preocupado com o que aconteceria com todo aquele material. "Espero que isso o liberte para passar o tempo que lhe resta fazendo coisas novas que ele ache interessantes", disse. Com a saúde mais frágil e pouca mobilidade, Oldenburg tem tirado fotografias das janelas da casa, atraído pela construção ao redor do seu prédio desde que o bairro passou por um rezoneamento alguns anos atrás.
"Estou fotografando em todas as quatro direções enquanto o mundo caminha", declarou Oldenburg, animado para mostrar uma série de impressões em grande escala, ainda em andamento, que ele espera expor na Galeria Pace. Uma imagem de um guindaste amarelo brilhante e outra de um comboio de caminhões de cimento mostram o fascínio do artista pela rua e por objetos mecânicos.
"Tudo isso está lá fora às seis da manhã, quando você quer dormir. A primeira coisa que faço é ir até a janela. Se parece bom, tiro uma foto", contou.
Enquanto sua filha expressava preocupação com o fato de seu pai continuar a viver aqui com as novas construções prestes a bloquear duas vistas, Oldenburg mantinha o foco nas fotografias. Ele puxou um anúncio publicitário com uma mulher linda e decidida cobrindo metade da fachada de um prédio. "Parece que ela tem só um metro e meio de altura", disse Oldenburg, radiante de satisfação.
Por Hilarie M. Sheets