NOVA YORK – Jacques Marchais, negociante e colecionadora de arte, nunca viajou à Ásia, mas os artefatos que reuniu do Tibete, assim como do Nepal, da Mongólia e do norte da China, se transformaram na paixão de uma vida.
Seu sonho de expor essa coleção ao público tornou-se realidade em 1947, quando, a apenas alguns meses de sua morte, o Museu Jacques Marchais de Arte Tibetana foi inaugurado no topo de um morro em Staten Island, em construção vizinha à casa onde morava.
O local foi projetado para se assemelhar a um monastério do Himalaia e, com a ajuda de um especialista italiano em construção, Joseph Primiano, ela foi atrás das pedras necessárias para recriar a sensação tradicional de montanha que esses locais oferecem.
Em 1976, o "The New York Times" comparou o museu, com suas torres estilo pagode, pequenas salas de meditação, biblioteca, jardim extraordinário e coleção aclamada, a uma "Shangri-La em Staten Island". O Dalai Lama o visitou em 1991.
No entanto, apesar da rica história e das riquezas que abriga, o museu hoje mostra sua idade e os fardos de ser uma pequena instituição com fundos limitados e equipe diminuta.
Apesar de alguns objetos que impressionam – como um altar sino-tibetano, imagens douradas de Buda, uma estupa vermelha esculpida e laqueada –, ainda em ótimo estado, o telhado precisa urgentemente de reforma, as mesas dos funcionários ocupam o espaço de exposição e uma rápida olhada pela claraboia revela a pintura descascando. As condições climáticas internas fizeram com que uma parte da coleção tivesse de ir para um depósito.
Muitos visitantes ainda se encantam com a tranquilidade dos artefatos e o cenário, mas alguns reclamam nas redes sociais da sensação de desordem e degradação.
Meg Ventrudo, diretora executiva, disse que o museu já está no caminho para um futuro mais otimista. A instituição recebeu mais de 1,9 milhão de dólares (7.300 milhões de reais) em fundo de capital do Departamento de Cultura da cidade e de autoridades locais para uma grande reforma, incluindo novo telhado, modernização dos sistemas de aquecimento, ventilação e ar-condicionado e troca de janelas e portas, assim como outras melhorias.
No museu, um painel anunciando o plano traz os dizeres: "Não olhe agora... mas grandes mudanças estão a caminho!"
Quando as reformas forem concluídas, em data ainda a ser determinada, será possível expor muito mais da coleção, em particular objetos têxteis e de madeira, esclareceu Ventrudo. "Acredito já termos progredido muito desde minha chegada e isso é muito positivo. Acho possível dizer que estamos financeiramente saudáveis, mas nos falta dinheiro para muitos projetos que queremos desenvolver", ela contou.
Graças aos subsídios, a programação aumentou e melhorias já foram feitas na manutenção da armazenagem e da coleção. "Já mandamos produzir novas vitrines de exposição para os objetos. E já restauramos um altar guardado há 30 anos e que, agora, está em exposição, ou seja, cada projeto demanda tempo e dinheiro", explicou Ventrudo, à frente do museu há 15 anos.
Pequenos museus pelos Estados Unidos lutam para levantar verba e conseguir atenção em um momento de tantas distrações, ofertas culturais e de entretenimento, tanto on-line quanto off-line, competindo pela atenção de visitantes em potencial.
Mesmo museus maiores e regionais podem enfrentar dificuldades. O Museu Pasadena de Arte da Califórnia fechou as portas em 2018, mesmo com uma instituição maior na região, o Museu de Arte de Los Angeles, planejando uma grande expansão.
No mesmo ano, o Museu Berkshire, em Massachusetts, vendeu 22 obras de arte para angariar fundos que fechassem o rombo no orçamento e financiassem reformas e a programação. Ao mesmo tempo, está ajustando a missão do local para se concentrar mais em ciência e história.
Há sempre trabalho para fazer, e alocar os recursos e encontrar as pessoas para isso pode ser um desafio. Eles estão tentando fazer muito com muito pouco.
ALLISON TITMAN
presidente da Associação de Pequenos Museus
"O que mais ouço de profissionais de pequenos museus é sobre o desafio de capacidade. Há sempre trabalho para fazer, e alocar os recursos e encontrar as pessoas para isso pode ser um desafio. Eles estão tentando fazer muito com muito pouco", argumentou Allison Titman, presidente da Associação de Pequenos Museus, uma rede de ponto-a-ponto na região.
A Aliança Americana de Museus observa, em suas pesquisas para pequenos museus, que 78 por cento de seus membros têm equipes com menos de dez pessoas e que, "em qualquer base de referência, a vasta maioria dos museus dos Estados Unidos é pequena".
O Museu Jacques Marchais tem dois funcionários em regime integral e três em meio período, além de alguns voluntários e vários prestadores de serviço. "Estamos sempre limpando e arrumando coisas aqui. Precisamos meio que manter as coisas funcionando", disse Ventrudo.
O orçamento operacional anual do museu – este ano foi de 230 mil dólares (quase 900 mil reais) – foi subsidiado pela prefeitura da cidade, por contribuições vindas de doadores e fundações, por ingressos e outras rendas.
Ventrudo negou planos de vender qualquer um dos cinco mil itens da coleção do museu tibetano para levantar dinheiro. Algo entre 60 e 70 por cento dos objetos estão guardados. "É uma combinação de falta de espaço suficiente aqui, condições climáticas internas e escolha curatorial", justificou. O museu faz exibições temáticas rotativas e, às vezes, empresta peças para o Museu de Arte Rubin, em Manhattan, e outras instituições.
As restrições enfrentadas pelo espaço são evidentes na biblioteca do museu, batizada de Marchais, onde os artefatos e livros sobre arte tibetana, budismo e filosofia precisam dividir espaço com o escritório principal do museu. Ventrudo e outro membro do staff do museu dirigem a instituição a partir de duas mesas ali localizadas e totalmente fora de contexto com seus computadores, telefones e impressora.
Ventrudo espera aumentar o espaço em algum momento para que o trabalho administrativo seja conduzido em um prédio separado. Ela acrescentou que, embora o museu tenha uma base de doação local fiel, incluindo o apoio de legisladores e fundações locais de Staten Island, é difícil conseguir dinheiro do outro lado da ilha, em Manhattan. "Fui a festas na cidade e as pessoas me perguntavam: 'Por que alguém iria até Staten Island?'", contou.
Claro, há dias em que apenas um punhado de visitantes passa pela porta de entrada do museu. Contudo, Ventrudo garantiu que a frequência subiu para cinco mil pessoas por ano, crescimento atribuído ao aumento da programação pública e à participação no programa Culture Pass (Passe Cultural), iniciativa das bibliotecas da cidade de Nova York que oferece visitas gratuitas a múltiplas instituições.
Ela declarou que, obviamente, sempre existirá outro projeto exigindo tempo e dinheiro e, além disso, é difícil completar os laboriosos editais para subsídios quando precisam competir contra instituições com número muito maior de funcionários para preenchê-los.
Mas, apesar dos desafios, disse, o museu precisa funcionar no mesmo nível dos demais, independentemente do tamanho. "Na minha opinião, o grande desafio é precisar seguir o padrão exigido dos museus em geral, mesmo sendo um museu pequeno", concluiu Ventrudo.
Por Sophie Haigney