NOVA YORK – Apenas três atores ocupam o palco em "What the Constitution Means to Me" (O que a Constituição Representa para Mim, em tradução livre), a busca de Heidi Schreck por um misto de oratória e memória, agora em cartaz no teatro Helen Hayes, na Broadway. Mas a sensação é de lotação máxima – não apenas pelas histórias pessoais e cívicas que a peça de Schreck invoca, mas pela galeria de rostos, quatro fileiras verticais e diversas colunas no meio, que nos encaram de maneira intimidadora sem trégua.
O cenário em estilo diorama de Rachel Hauck, um esforço para resgatar um dos salões da Legião Americana (organização de veteranos de guerra dos Estados Unidos) onde Schreck, quando adolescente, recitou seu premiado discurso elogioso à Constituição do país, inclui muitos detalhes escolhidos cuidadosamente: algumas cadeiras cor de cenoura; uma bandeira com a insígnia do posto da Legião na cidade natal de Schreck, Wenatchee, em Washington; um tapete fino e funcional em tom castanho-escuro.
Mas é a parede que tudo cerca, com 163 fotos retratando membros da Legião Americana – veteranos de todos os conflitos em que os Estados Unidos participaram desde a Primeira Guerra Mundial até a atual guerra no Afeganistão –, que dá ao público a imagem da qual provavelmente se lembrará.
Foi isso certamente que chamou a atenção de Schreck quando ela entrou pela primeira vez no cenário que Hauck criou para uma produção de 2017 da companhia Clubbed Thumb no Wild Project, um espaço muito distante conceitualmente da Broadway localizado no East Village.
"Entrei e tive uma reação visceral de horror. Disse: 'Você precisa tirar algumas delas. Está exagerado. É demais. Estou me sentindo claustrofóbica aqui'", confessou Schreck recentemente. Em retrospecto, Hauck concordou: "Admito que projetei um ambiente bastante impiedoso para ela. Acho que foi o cenário mais cruel que já concebi."
O impulso para tanto, a designer explicou, surgiu de uma "resposta visceral" à peça de Schreck, que, mesmo já nos primeiros esboços, dava indícios de intercalar o legado carregado de tensão do documento fundador da nação com as histórias das mulheres da família de Schreck, incluindo a dela. O cenário, concluiu Hauck, "é tão intenso quanto as histórias que ela conta".
O número de fotos não diminuiu, como havia solicitado Schreck a princípio. Pelo contrário, multiplicou-se, com a ajuda do aderecista Raphael Mishler, que vasculhou a internet e recolheu centenas de opções. Os direitos de imagem foram garantidos para as apresentações na Broadway, mas não para as anteriores no Berkeley Repertory Theater e no New York Theater Workshop.
Hauck, trabalhando em parceria com o diretor Oliver Butler, se esforçou para deixar as fotos mais próximas, pois ambos perceberam que menos rostos dariam a cada uma um destaque muito individual. Agora, como definiu, "está mais parecido com um papel de parede – está geométrico".
O que não significa que não existam detalhes singulares para os espectadores mais atentos. Na realidade, o total de 163 é um pouco enganoso, já que há um punhado de fotos duplicadas.
Em uma parede está a fotografia do produtor de televisão Norman Lear, que serviu na Segunda Guerra Mundial e cuja filha, Kate Lear, é coprodutora do espetáculo na Broadway. Em outra, há fotos de Butler vestindo a característica boina militar e imagens de dois atores que interpretaram legionários no palco, Danny Wolohan e Mike Iveson. Uma pessoa que assistiu à peça no Berkeley reconheceu com emoção o próprio retrato na parede.
Schreck tem um carinho especial por um dos rostos do conjunto: o do falecido James Melvin "Mel" Younkin, veterano da Segunda Guerra, natural de Wenatchee, que presidiu a competição de oratória vencida por Schreck e que depois viajou com a jovem Heidi e sua família para torneios em outros postos da Legião no noroeste do Pacífico.
Younkin é personificado no palco como uma figura austera e crítica na interpretação de Iveson – "uma parte do cenário em carne e osso", como observou –, até que um monólogo mais para o fim da peça acrescenta nuances tanto ao veterano da vida real quanto ao ator em seu papel.
Há também alguns toques invisíveis típicos da abordagem arquitetônica que Hauck emprega no design de cenografias. (Hoje em dia, ela também pode ser vista em "Hadestown", também na Broadway, e já trabalhou na maioria dos grandes teatros de Nova York.) As paredes de tijolos aparentes que a audiência vê no cenário principal, desprovido de teto, por exemplo, não são características do interior do teatro Helen Hayes, mas sim uma reconstrução aproximada das paredes do New York Theater Workshop.
Outra escolha que pode passar despercebida até que alguém chame a atenção para ela, como faz Schreck no prelúdio da peça: não há porta. "Ou seja, é uma armadilha", revelou Hauck, com um sorriso malicioso. Butler contou que imagina o cenário como "uma caixa rígida que guarda e talvez oprima [Schreck], mas que também oferece a ela algo contra o que lutar. É como diria Houdini: 'Estes são os grilhões; eles são as verdadeiras travas.' Se ele não estivesse envolto em grilhões, então do que escaparia?"
Para seu papel, Schreck se aconchegou consideravelmente no espaço que ocupa no palco, em parte como resultado do próprio empenho para se sentir em casa. Por exemplo, nas folhas de um coqueiro-de-vênus que fica no palco, ela colocou um sachê com o perfume White Shoulders. A essência era usada por sua avó, cuja experiência de abusos conjugais é representada de forma massiva em "What the Constitution Means to Me".
Schreck acredita que a peça a ajudou a "resolver questões pelo simples fato de fazer isso todas as noites".
Estranhamente, ela também se sente "mais conectada com os homens do que quando pisou no cenário pela primeira vez". Citando o livro de Judith Herman "Trauma and Recovery" (Trauma e Reabilitação, em tradução livre), Schreck passou a enxergar analogias entre o estresse pós-traumático infligido pelas guerras e aquele causado por agressões sexuais, ambos "oriundos de uma cultura patriarcal violenta".
Em outras palavras, ela agora entende os rostos na parede da mesma forma que percebe os homens brancos que escreveram a Constituição, com todas as suas promessas e compromissos, e que têm controlado o governo americano pela maior parte de sua história. Ela os vê "às vezes como opressores, às vezes como aliados".
Por Rob Weinert-Kendt