Fãs trajados com fantasias de seus heróis favoritos dos quadrinhos, dos filmes e das séries movimentaram a 8ª ComicCon RS, que ocorreu neste sábado e domingo no campus da Ulbra em Canoas. Os admiradores da cultura pop conferiram bate-papos, mesas-redondas, estandes de artistas gráficos e outras atrações. Até o fechamento desta reportagem, a organização contabilizava mais de 5,5 mil frequentadores somando o público dos dois dias.
Entre os cosplayers, estavam o estudante de história Cristion Pacheco, 28 anos, e o trabalhador da indústria Pedro Mocelin Carvalho, 22, que integram o fã clube Conselho Jedi RS, dedicado ao universo de Star Wars e que ocupava um espaço no segundo andar do prédio da Ulbratech. Pacheco estava vestido como Darth Vader, e Carvalho, como Obi-Wan Kenobi.
– O cosplay é uma diversão para quem gosta do mundo nerd – diz Pacheco. – Sempre tem o pessoal que quer tirar fotos conosco. Essa roupa do Darth Vader foi comprada, mas tem pessoas que fazem as suas próprias fantasias. A gente vai montando como pode e vai evoluindo com o tempo para ficar cada vez melhor.
A ComiCon RS 2018 contou com a presença do ilustrador britânico Glenn Fabry e do humorista Daniel Furlan, conhecido como o Renan do programa Choque de Cultura (leia entrevista abaixo). No início da tarde de domingo, Furlan falou sobre seu trabalho para um público que lotou as cadeiras disponíveis. Por vezes reproduzindo a dicção do personagem Renan, provocou gargalhadas, como quando imaginou uma participação de Adam Sandler em A Lista de Schindler.
Envolvido com diferentes projetos, o humorista comentou sobre o lançamento do livro do Choque de Cultura, previsto para novembro, com o título 79 Filmes para Assistir Enquanto Dirige, e contou que nesta segunda-feira (6) será publicada sua primeira coluna semanal na Folha de S. Paulo. Seu trabalho também pode ser visto na série Samantha!, na Netflix, e no filme Uma Quase Dupla, nos cinemas.
Depois, Furlan tirou fotos com fãs, que formaram uma longa fila. Um dos que pegaram senha foi Émerson Vasconcelos, curador da ComicCon RS ao lado de Marina de Campos.
– Temos que dar o exemplo – diz Vasconcelos, que comemora o crescimento da cultura dos super-heróis, dos quadrinhos e do universo pop nos últimos anos. – Quando começamos, em 2011, ainda se discutia se os filmes de heróis iam se sustentar ou se ia ser uma fase que depois ia despencar. Mas veio para ficar.
Vasconcelos destaca a abordagem de novos temas na ComicCon, como a diversidade:
– Um nicho dos fãs que reclamavam de preconceito (sobre o universo "nerd") hoje não aceita quando uma etnia de um personagem é trocada ou quando surge um personagem homossexual. Como pode isso? Por isso, tivemos um painel sobre esse tema ontem (sábado).
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Entrevista com Daniel Furlan: "Acho um elogio acharem que é improvisado"
Daniel Furlan, 38 anos, é um dos nomes à frente de um dos projetos mais bem-sucedidos da internet brasileira nos últimos anos: Choque de Cultura. O programa de humor, disponível no YouTube, é uma espécie de mesa redonda que reúne quatro motoristas de van para falar sobre cinema. Formado em comunicação social e mestre em artes midiáticas, Furlan foi uma das principais atrações da ComicCon RS e falou com Zero Hora após o bate-papo com o público.
Surpreende ver os fãs presentes em grande número e sabendo imitar o Renan do Choque de Cultura?
O negócio de imitar é bem recorrente (entre os fãs), acho maneiro. Fiquei mais surpreso que tinha bastante gente. Quando cheguei, pensei que o Felipe Neto ia fazer um painel ou alguma coisa assim.
Com projetos em várias plataformas, você se sente...
Explorado? (risos).
... Renovando o humor de certa forma?
Não sei, não penso sobre isso não. Acho que a gente sempre tentou fazer projetos com nosso estilo, nosso DNA, principalmente nos nossos programas, para que sejam bem autorais. Damos menos preferência para atuar no programa de alguém. Independentemente de renovar ou não (o humor), queremos fazer do nosso jeito, e às vezes dá certo de os espectadores embarcarem junto.
Quando você é solicitado pelo Multishow e pela Netflix, é um desafio manter a independência do seu estilo?
Às vezes tem uma miniluta para fazer as coisas do jeito que você acha que tem que ser feito. Às vezes, o veículo pode pensar diferente. Mas nunca teve um trabalho em que a gente fosse muito podado e pensasse: "Que b..., estamos tendo que fazer uma parada em que não acreditamos". Sempre escolhemos trabalhos que poderíamos fazer do nosso jeito e com os quais nos identificamos. Começa pela escolha do que você vai fazer.
Um dos temas que apareceram no bate-papo com o público foi o fato de os programas de vocês no YouTube serem roteirizados, e não improvisados, como muitos pensam que são. Entender esse aspecto espontâneo ou aparentemente espontâneo da internet é um dos trunfos?
Acho um grande elogio as pessoas acharem que é improvisado um negócio que é roteirizado, porque não é simples pegar uma parada que está escrita e falar como se estivesse pensando na hora. O desafio é sempre esse, falar como se estivesse debatendo ao vivo. Tanto o Falha (de Cobertura) quanto o Choque (de Cultura) têm a a onda de serem programas que pensamos antes mas parecem que estão acontecendo naquele momento, que está dando errado ou que os caras não sabem fazer.
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