Há três meses, a vida de Manoel Soares sofreu uma reviravolta. Deixou seu posto na RBS TV para assumir a função de repórter do Encontro com Fátima Bernardes em São Paulo. A cidade é nova, e o desafio, imenso, mas a responsabilidade segue a mesma assumida desde o início da carreira: dar voz à periferia sem reforçar estereótipos, por meio do olhar de quem viveu de perto muitas das dificuldades retratadas nas reportagens.
A partir de hoje, o repórter comanda, ao lado de Ana Furtado e Lair Rennó, a apresentação do programa por três semanas, substituindo Fátima durante as férias.
– Profissionalmente, sempre tive a obsessão por diminuir a distância entre o morro e o asfalto, levar a televisão para a periferia. Vivia entre o lixo e o luxo. Pessoalmente, minha meta era tirar minha família da miséria absoluta, em que a gente chegava a disputar comida com os ratos – conta o baiano, que chegou ao Rio Grande do Sul em 1997.
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O desafio da representatividade
Antes de trabalhar como repórter na RBS TV, onde permaneceu por 15 anos, Manoel foi pedreiro, vendedor ambulante, segurança e chegou a morar na rua. O convite para integrar o elenco do Encontro tirou o jornalista do prumo:
– Quando fui chamado, fiquei três dias com dor de barriga – entrega Manoel, que se espelha em Fátima: – A naturalidade dela, o jeito com que faz o jornalismo dialogar com o entretenimento, me encantam. Eu dizia: um dia ainda vou trabalhar com essa mulher. Agora, olho para a Fátima e não consigo registrar. Ela ainda é um pouco virtual para mim.
No programa, Manoel vai às ruas para contar histórias e volta e meia senta no sofá para participar como entrevistador. Também já fez sua estreia como apresentador da atração matinal, em junho, quando ficou à frente da produção por dois dias. Às vezes, a emoção toma conta: o jornalista foi consumido pelas lágrimas quando sua mãe, dona Ivanete, fez uma homenagem para o filho no ar.
– Quando soube da novidade, ela (a mãe) me disse: "Vai lá e se comporte". Sei bem do que ela está falando. Não tem a ver com a bronca maternal, mas com fazer o que precisa ser feito. Vou fazer, e com leveza. Nunca vou abrir mão dos valores que trouxe de casa.
Apontado como uma das referências negras na TV, Manoel sabe da responsabilidade que tem sobre os ombros. Para o jornalista, é necessário seguir na trilha da representatividade desbravada por outros grandes nomes:
– O mérito de eu estar aqui não é meu. É de Milton Gonçalves, Zezé Motta, Lázaro Ramos. Vem de pensadores acadêmicos, militantes sociais negros e periféricos que lutaram para isso. Ter a amizade de MV Bill, de Mano Brown, de gente que construiu minha formação como indivíduo, causou isso. Estou num programa de muita visibilidade, isso é muito forte para mim. Meu nervosismo, meu medo de viver esse momento não é pela fama. É que eu tenho noção do que está acontecendo, do que isso representa.
Na edição de hoje, que vai ao ar às 10h50min na RBS TV, o trio substituto trará para a discussão o veganismo. Também haverá a participação do ator Ícaro Silva, vencedor do quadro Show dos Famosos, e Fafá de Belém, que estará na novela A Força do Querer.