Um dos autores mais adaptados do mundo, Shakespeare pode ser encontrado no cinema e na televisão, em produções das mais diversas épocas e procedências. Otelo, peça cuja nova tradução tem lançamento nesta segunda-feira no Brasil, tem pelo menos duas versões clássicas, sendo uma delas um dos projetos mais grandiosos e controvertidos de Orson Welles, o célebre ator e diretor de Cidadão Kane (1941), para muitos o maior filme já feito. Além de Welles, encarnaram o general mouro de Veneza atores como Laurence Olivier, Laurence Fishburne e, na TV, Anthony Hopkins. Confira a seguir.
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Othello (1922), de Dimitri Buchowetzki
Um dos primeiros longas-metragens adaptados da peça de Shakespeare, esta produção alemã traz características do expressionismo em voga no país à época do chamado cinema mudo. Com 79 minutos, a trama enxuta é estrelada pelo astro Emil Jannings no papel-título (Jannings também foi Mephisto no Fausto de Murnau, entre outros trabalhos marcantes), Werner Krauss como Iago e Ica von Lenkeffy como Desdêmona. Trata-se de um clássico do período. Mas não é fácil vê-lo: o filme não está disponível em home vídeo e raramente aparece na TV ou nos serviços de streaming.
Otelo (1952), de e com Orson Welles
Obcecado por Shakespeare, Welles assinou os filmes Macbeth (1948) e Falstaff (1965) – além de adaptações teatrais como a provocativa Voodoo Macbeth, protagonizada apenas por atores negros nos anos 1930. Em 1952, finalmente concluiu um de seus projetos mais ambiciosos: Otelo, longa que demandou nada menos do que três longos anos de filmagens e diversas brigas com os produtores de Hollywood, que fizeram cortes na versão lançada no circuito comercial à revelia do diretor – episódio que seria abordado no documentário Filming Othello, de 1978. A versão de Welles foi exibida no circuito de festivais e no mercado europeu, onde Otelo foi consagrado – venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes, entre outras distinções.
Otelo, o Mouro de Veneza (1956), de Sergei Yutkevich
Sergey Bondarchuk estrela este filme russo que deu ao diretor e roteirista Yutkevich o prêmio de melhor direção em Cannes. O ucraniano Bondarchuk, que também foi diretor (de longas como o premiado Guerra e Paz, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 1967), foi aclamado por sua performance do trágico personagem-título – é considerada uma das melhores do cinema. O longa não está disponível no Brasil.
Othello (1965), de Stuart Burge
Indicada a quatro Oscar (todos nas categorias de interpretação), esta produção britânica é lembrada até hoje como uma das mais famosas adaptações da obra do Bardo. Laurence Olivier eternizou a figura de Otelo em uma grande atuação, mas chamam a atenção as participações de Maggie Smith, como Desdêmona, Joyce Redman, como Emilia, e sobretudo Frank Finlay (1916 – 2016), como Iago, naquela que é tida como a mais longa performance de um ator indicado a coadjuvante no Oscar – ele aparece em cena por um hora, 30 minutos e 43 segundos, apenas três minutos a menos do que Olivier, indicado a melhor ator). O longa já foi lançado em DVD no Brasil.
Othello (1981), de Jonathan Miller
Célebre produção da TV britânica estrelada por Bob Hoskins, como Iago, Penelope Wilton, como Desdêmona, e Anthony Hopkins, que encarna o general mouro com o rosto pintado de negro. É um telefilme com cerca de 200 minutos de duração, que foi apresentado originalmente em capítulos, tal qual as outras adaptações da rede BBC da obra teatral de Shakespeare. No Reino Unido, essas adaptações foram reunidas em uma caixa de DVDs facilmente acessível via internet. No Brasil, este Otelo da TV britânica não está disponível em DVD ou Blu-ray.
Othello (1995), de Oliver Parker
Diretor conhecido por filmes muito diferentes como o thriller Dorian Grey (2009) e a comédia O Retorno de Johnny English (2011), o londrino Oliver Parker estreou no cinema com essa adaptação estrelada por Laurence Fishburne (Otelo), Kenneth Branagh (Iago) e Irène Jacob (Desdêmona). Branagh, que como diretor adaptaria Hamlet no ano seguinte (e Macbeth em um telefilme de 2013), chegou a ser indicado ao prêmio do sindicato dos atores de Hollywood (SAG Awards) pela sua performance como o vilão da trama de Otelo. O filme está disponível em home vídeo no Brasil.
Jogo de Intrigas (2001), de Tim Blake Nelson
Adaptação bastante livre do texto original, este filme transpõe o universo shakesperiano para o contexto das high schools norte-americanas (o equivalente ao Ensino Médio brasileiro), especificamente para as rivalidades em torno dos atletas que jogam basquete. O título original é O, e seu protagonista é Mekhi Phifer (de 8 Mile e da franquia Divergente). Ele interpreta Odin, o equivalente a Otelo, único negro do time da escola, que é sabotado pelo colega Hugo (Josh Hartnett), filho do técnico interpretado por Martin Sheen. Julia Stiles interpreta Desi Brable, a Desdêmona reconstruída para este projeto sui generis. Disponível em DVD e também em Blu-ray.