Com referências ao dia a dia dos gaúchos, descrições curiosas dos municípios onde vivem ou interpretações cômicas de músicas de bandas de bailes, três humoristas da Serra tornam-se cada vez mais conhecidos Estado: os primos Diego Elzinga e Caciano Kuffel, de Caxias do Sul, ambos com 26 anos, e Felipe Pires, de Farroupilha, 25. Ao longo de 2016, cada um deles conquistou milhares de admiradores no Facebook lançando vídeos. E agora projetam suas carreiras fora da web. É um caminho inverso ao tomado por outros comediantes de sucesso no Estado:
– Se tu falar de humorista gaúcho, vai lembrar do Cris Pereira ou do Guri de Uruguaiana. Eles cresceram dentro do palco e migraram para a internet. Nós começamos na web e estamos indo para o palco. Mas nosso foco principal ainda continua sendo a internet – explica Elzinga.
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Há outro diferencial na produção humorísticas dos três: eles não costumam interpretar personagens.
– Quando eu, Caciano e Elzinga fazemos vídeos, é a nossa cara que está ali. Não tem um personagem, máscara ou peruca. É a nossa vida, o nosso dia a dia – aponta Felipe.
Os três não são os primeiros a explorar o cotidiano e os costumes do interior gaúcho no humor – vide Guri de Uruguaiana, Iotti e até os perfis fakes de Sandro Sottili nas redes sociais gerenciados por Bruno Pires. Porém, eles inovaram ao levar esse conteúdo em vídeo.
– Foi muito rápida a ascensão quando a gente começou a falar do Estado. Nossa diferença é que estamos falando para um público jovem, que não é aquele regionalista forte, mas que gosta daqui. Acho que faltava isso: uma visão jovem do Rio Grande do Sul, que resgate a cultura do gringo, do alemão, do gaúcho, mas não aquele "gauchão" – avalia Caciano. – Mostramos como as pessoas vivem seu dia a dia, e esse ato de se enxergar proporciona o compartilhamento e a curtida – completa o comediante.
O vídeo de maior sucesso de Elzinga (Grêmio Campeão) tem mais de 2 milhões de visualizações. Pires já atingiu 5,5 milhões (Não Vale Só 50 Reais) e Caciano soma mais de 5 milhões (Quando Toca Evidências).
– Sempre procuramos fazer um conteúdo viral. O Facebook funciona melhor para divulgar o conteúdo rápido. Com o YouTube, o usuário precisa sair da rede social para conhecer o vídeo, e muitas vezes ele não quer clicar para sair do Facebook. Como estamos começando, é melhor que as pessoas conheçam a gente, para ganharmos com o investimento direto das empresas, do que tentar direcioná-las para o YouTube e ter menos visualização – ressalta Caciano.
Com o sucesso na web, consequentemente, os três passaram a ser reconhecidos na rua.
– Você vai nos lugares e vê as pessoas tremendo para bater uma foto ou gaguejando para conversar contigo. Isso foi a maior mudança na minha vida. Tu tens que aprender a lidar com isso. Precisas ter carinho e não pode ignorá-los. A pessoa espera que tu sejas aquilo que ela vê na internet – analisa Elzinga.
– Às vezes vou a um restaurante, e o atendente me fala que não preciso pagar, pois ele gosta dos meus vídeos. Já que sou gringo, aceito – brinca Caciano.
DA WEB PARA OS PALCOS
Impulsionado pelos sucessos de seus vídeos, Elzinga passou a realizar apresentações de stand-up:
– Eu pego um pouco do que faço nos vídeos e trago para dentro dos shows. É inevitável: se você trabalha com a internet, vai ter o momento em que terá que sair dali para as pessoas verem que você é de carne e osso.
Formado em jornalismo, Elzinga trabalhava com marketing, mas largou seu emprego e foi passar quatro meses no Canadá, em 2015. Na volta da viagem, decidiu começar sua produção.
– Quando voltei, todo mundo estava falando só de crise, então peguei uma câmera e comecei a falar de Caxias. Lancei no meu perfil do Facebook, e muita gente compartilhou. Pensei em fazer mais um para ver no que dava. E cada vez mais gente me pedia para fazer vídeos – lembra.
Além de produzir esquetes brincando com hábitos dos gaúchos, Elzinga se destaca principalmente por vídeos onde esmiúça detalhes das mais variadas cidades gaúchas e catarinenses – como Tapes, Itaqui, Panambi e Torres, entre outras.
– As pessoas me mandam informações sobre suas cidades. Registro tudo num bloco de notas. Quando vejo que tenho bastante conteúdo sobre um lugar, começo a fazer uma decupagem. Se uma informação costuma se repetir, entendo que o fato pode ser verídico. Também há coisas que tenho de pesquisar no Google – relata.
Elzinga fez disso seu principal marketing:
– De cada lugar que falo, crio minha imagem dentro daquela cidade. Como as pessoas me conhecem, aumentam as chances de quererem meu show. Consequentemente, empresas locais querem que eu fale delas e fecho parcerias para os vídeos que são divulgados em seus canais. Ou, então, alguma prefeitura entra em contato pedindo que eu faça uma apresentação.
Para o futuro, Elzinga pretende montar uma produtora para realizar curtas e esquetes para a internet.
Já Felipe Pires ficou conhecido por seus vídeos relacionados às bandas de baile, nos quais interpreta e ressignifica as canções em esquetes sobre o cotidiano.
– Eu foco muito nas bandas de baile porque tem aquilo de nostalgia. Claro que há pessoas que possuem outra cultura e não gostam, mas no passado acabaram escutando porque a mãe, o pai, o tio ou o vizinho escutavam. Eu comecei os vídeos buscando essa memória afetiva aqui do Sul: "Tal música me lembra tal coisa quando eu tinha cinco ou 10 anos" – explica.
Felipe trabalhava na cantina de uma universidade de Estância Velha, mas deixou a ocupação para se dedicar à produção de humor para o Facebook, que virou seu novo emprego.
– Eu comecei gravando vídeos na brincadeira, com músicas antigas, pela nostalgia. As bandas viram que o negócio estava crescendo e dava certo, então minha página no Facebook se tornou uma espécie de rádio. Os grupos me procuram para investir em vídeos com seus lançamentos, criando um esquete. É daí que tem vindo a minha renda – explana.
Segundo Felipe, já houve ocasião em que a banda preferiu produzir um vídeo em sua página no Facebook, em vez investir em um clipe. O comediante já fez algumas apresentações de stand-up, mas admite que ainda é principiante no ramo. Outra possibilidade é fazer presença VIP em bailes:
– Algumas casas me contratam para fazer presença. Em troca, publico na minha página que vou estar no evento. Quem curte meu trabalho, vai me ver. O dono do baile me contrata porque sabe que, talvez, irão 10 ou 20% a mais de pessoas.
Apesar do sucesso com as bandinhas, Felipe imagina sua fórmula pode cansar:
– Um dia isso vai enjoar, vai acabar a graça disso. Aos poucos tenho que ir me moldando.
Por isso, pensa em estrelar sua própria bandinha:
– Quero juntar as bandas de baile com humor. Mas quero ter as minhas próprias músicas. Se tiver que subir no palco de sutiã e peruca, vou subir, como os Mamonas Assassinas.
Do trio, Caciano Kuffel era o único que já atuava como comediante antes de lançar-se no Facebook. Começou como mágico. Apresentava-se em festas de crianças, formaturas e eventos de empresa. Entrou para um grupo de palhaços de hospital e fez cursos de clown. Começou a estudar também a escrita de comédia e investiu no stand-up nos últimos anos. Mas o sucesso veio mesmo com os vídeos do Facebook, desde fevereiro de 2016, que ajudaram a vender shows e renderam contratos publicitários.
– Eu falo sobre o cotidiano dos gaúchos e de assuntos variados. Não tenho um formato específico.Qualquer coisa é passível de comédia. Eu me inspiro bastante no Monty Python e no Jim Carrey – descreve.
Em suas apresentações, Caciano mistura mágica e comédia.
– Faço interação com a plateia, pequenos números de mágica e falo do cotidiano do Rio Grande do Sul, além de histórias da minha vida que deram errado – detalha.
Caciano pretende fazer mais cursos para se especializar em comédia e sente-se contemplado com o que vem conquistando ao lado dos colegas da Serra:
– É muito gratificante ver que o nosso trabalho está tocando tanta gente. Espero que isso não seja uma coisa passageira, que continuemos crescendo e fazendo com que as pessoas reconheçam que a gente pode levar comédia vinda do interior do Estado.
Quem são eles:
Diogo Elzinga
Idade: 26 anos
Cidade: Caxias do Sul
Página no Facebook: @ElzingaOficial
Caciano Kuffel
Idade: 26 anos
Cidade: Caxias do Sul
Página no Facebook: @cacianocomc
Felipe Pires
Idade: 25 anos
Cidade: Farroupilha
Página no Facebook: @felipepiresrs