Estreia desta semana no CineBancários (com exibições diárias) e no Espaço Itaú (consulte o site), Jonas e o Circo Sem Lona é um dos mais aguardados filmes da Sessão Vitrine Petrobras, que traz ao circuito títulos premiados em festivais.
O longa de Paula Gomes se passa na periferia de Salvador, onde um garoto de 13 anos, filho (e neto) de artistas de circo, junta-se a amigos para montar um picadeiro improvisado que é frequentado pelos moradores das redondezas.
Jonas é o mentor dos números do show, o responsável pelos figurinos e pela música, além de ser quem controla os ingressos. Quer abandonar a escola para, com o tio, viver em um circo itinerante. Seu sonho, contudo, é tolhido pela mãe, que não o quer "nessa vida" que tão bem conhece.
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Como Jonas e o Circo Sem Lona é apresentado como documentário, acompanhamos a angústia do menino crendo tratar-se, por assim definir, da verdade. Você pode reagir a essa frase dizendo que o cinema já superou tensões entre o que é real e o que é recriado para a câmera – é tudo verdade diante do pacto de suspensão da descrença, ainda mais na tão instigante fronteira entre ficção e não ficção. Ocorre que, especificamente neste filme, e principalmente nos atos finais, as reencenações são bastante evidentes – algo na linha dos ótimos e já referenciais Terra Deu, Terra Come (2010) e O Céu sobre os Ombros (2011), que não são exatamente documentários.
Isso não é um problema, sobretudo, por causa do protagonista. Jonas é uma figura muito cativante, que não só encarna o garotinho sonhador dos primeiros atos como dá conta da melancolia do final – quando, como quem diz que o amadurecimento implica em renúncias, a diretora conduz a trama a um impasse discutido inclusive por Jonas, que chega a questionar, nas últimas e belíssimas sequências, o final que Paula Gomes planejou para o longa.
Sem spoilers: com planos simples mas bem elaborados, fotografia naturalista e montagem discreta porém efetiva, Jonas e o Circo Sem Lona reflete ao mesmo tempo sobre a desvalorização da cultura popular em detrimento do conhecimento sistematizado, erudito (não dar atenção à escola surge como contraponto à paixão pelo circo), sobre a dificuldade de se tornar o que um dia se sonhou, sobre a impossibilidade da realização plena em determinados contextos sociais.
É um filme simbólico sobre o fim das utopias. Com um final capaz de amolecer até mesmo os corações mais duros.
JONAS E O CIRCO SEM LONA
De Paula Gomes
Documentário/drama, Brasil, 2015, 82min. Livre.
Em cartaz no CineBancários e no Espaço Itaú, em Porto Alegre.
Cotação: 4 estrelas (de 5).