Yuval Noah Harari era (pelo menos para mim) um completo desconhecido até o lançamento de Sapiens: Uma Breve História da Humanidade no Brasil. O fato dele morar e lecionar em Israel, longe das grandes editoras científicas e acadêmicas, talvez tenha atrasado um pouco o seu sucesso. Ou, o que é mais provável, esta é a sua primeira obra capaz de atingir o leitor com a força de um direto no queixo, a ponto de ser traduzida para mais de 30 idiomas. Qual a razão de tamanho impacto? É simples responder: não é um livro de História, não é um livro de Biologia, nem de Sociologia, nem de Antropologia, nem de Psicologia. É um livro realmente transdisciplinar. O campo original de Harari é a História, e ele parte de uma base sólida construída em Oxford, mas, como dizem os melhores técnicos de futebol, não importa muito de onde partem os jogadores, e sim onde eles chegam.
O diálogo entre as Ciências Sociais, as Ciências Biológicas e as Ciências Exatas tem sido incentivado nas melhores universidades do mundo. Na prática, contudo, o cotidiano de pesquisadores interdisciplinares – aqueles que estabelecem um paralelo entre dois ou mais campos de estudo – é bem complicado. Os grandes especialistas ainda dão as cartas na academia e têm dificuldade para valorizar alguém que consegue sair de seu quadrado e tenta chegar em qualquer outra figura geométrica. Harari, entretanto, é mais que interdisciplinar. É transdisciplinar, isto é, conseguiu criar um texto que não trata a evolução da humanidade colocando História e Biologia em paralelo. Ele as integra, criando algo como a Cronobiologia, ou a Biohistória. Sapiens é um triunfo da não especialização.
Como se não bastasse, Harari acaba de nos entregar Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, que funciona como um prolongamento de Sapiens em direção ao futuro. Nesta nova obra, ainda mais transdisciplinar, a filosofia entra na dança, e não se trata de um velho minueto, ou de uma tranquilizadora sinfonia clássica. É cyberpunkrock a todo volume nas caixas! O futuro descrito por Harari é mais que sombrio. É mais escuro que o lado escuro da Lua, o que, infelizmente, parece combinar muito bem com o presente da história brasileira.