Grandes ídolos da música sempre foram tentados pela presença no cinema. Mas são poucos os que conseguiram mostrar diante das câmeras algo artisticamente relevante, além da protocolar presença para seduzir fãs nas bilheterias e vender discos. David Bowie foi um deles. O cantor britânico somou ao longo da carreira trabalhos, mais que dignos, robustos.
O primeiro longa que Bowie estrelou está voltando a cartaz nesta quinta-feira em cópia restaurada: a ficção científica O Homem que Caiu na Terra (1976), de Nicolas Roeg. Uma estreia logo com o papel de protagonista. Bowie é Thomas Jerome Newton, alienígena recém-chegado que faz uso dos conhecimentos científicos avançados para erguer um bilionário conglomerado de empresas de tecnologia. Quer preparar o terreno para trazer seu povo de um planeta ameaçado e construir a nave para o resgate.
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O Homem que Caiu na Terra tem rimo letárgico e se vale muito da figura que Bowie incorporava à época, quando lançou seu segundo álbum gravado nos EUA, Station to Station (1976), o pálido e esquálido Thin White Duke. A fragilidade física do viajante espacial era decorrente também do mergulho que Bowie fazia na cocaína. Mesmo que, basicamente, interprete a si mesmo, é inegável a força na tela do mimetismo entre ator e personagem. Roeg havia estreado no cinema dirigindo outro astro pop, Mick Jagger, em Performance (1970). Mas, se o amigo roqueiro era dramaturgicamente limitado, Bowie foi sempre íntimo da genuína performance, no palco, na música, na vida. Teve a chance de mostrar que era um bom ator em filmes como Fome de Viver (1983), Furyo, Em Nome da Honra (1983) e outros tantos. E foi soberbo em sua derradeira atuação, no videoclipe de Lazarus, encenando a própria morte.
O HOMEM QUE CAIU NA TERRA
De Nicolas Roeg
Drama/Ficção científica, Reino Unido, 1976, 139min.
Estreia quinta-feira nos cinemas.