Se uma das suas resoluções de Ano Novo incluía ouvir mais música, conhecer gente nova e respirar um pouco de ar fresco, esta coluna aponta para uma única direção: a ensolarada e bucólica Ijuí, onde no final de semana ocorre mais uma edição do Acid Rock Festival.
Como qualquer outra iniciativa independente, o Acid foi uma reação à mesmice que permeia o mainstream. Em 2011, cansado de ouvir e ver sempre as mesmas bandas e de reclamar da falta de espaço para a produção local, um grupo de amigo decidiu que eles mesmos deveriam tomar uma atitude. Desde então, o festival cumpre o objetivo de servir de vitrine para a cena cultural da região e trazer atrações que, de outra forma, não chegariam até lá.
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– O festival só cresce e já entrou no calendário das pessoas – comenta Renan Mattos, um dos organizadores.
Depois de duas edições em Santo Ângelo e duas em Entre-Ijuís, o evento se estabeleceu em Ijuí. Apesar de ter o rock como sobrenome, o line-up que o público encontrará neste final de semana no Balneário do Chico mostra que festival prioriza mesmo é a experimentação musical, o rompimento de fronteiras estéticas, o alargamento criativo. Há desde o rock mestiço do Bomb Larai (confira crítica na página) à MPB virtuosa da Musa Híbrida, o indie pop de Thiago Ramil e a psicodelia viajandona dos paulistas da Bike e dos pernambucanos do Tagore.
Além de música, as atrações do Acid se espalham para peças de teatro, oficinais, exposições e uma mostra de curtas-metragens.
– Queremos que as pessoas saiam do ambiente urbano, se conheçam, ouçam coisas novas, experimentem novas sensações. É para isso que o festival serve – define Mattos.
LANÇAMENTOS
SURFADELIC DREAMS
Paquetá
Bruno Fogaça (bateria), Wender Zanon (baixo), Daniel Hogrefe e Vinicius Dagger (guitarras) formam esta novíssima banda de música instrumental. Fundado no ano passado em Canoas, o quarteto mistura punk rock com surf music, psicodelia e uns barulhinhos esquisitos. O próprio realease admite e eu pude comprovar no meio da Redação: Paquetá é uma banda para dançar de uma forma desengonçada. Diria também com um sorriso de canto e olhos semicerrados, se é que estamos nos entendendo. Minha faixa preferida, por motivos óbvios, é Eu não tenho controle sobre as minhas atitudes. E quem é que tem, não é mesmo? Bola pra frente, então. Rock, 5 faixas, Banana Records, disponível para audição em paqueta.bandcamp.com
LOKURA PLENA
Bombo Larai
Formada em 2012, a Bombo Larai adiantou a onda latina que hoje toma conta da cena musical do Rio Grande do Sul e ameaça se espalhar pelo resto do país. Ouvir seu disco de estreia é como ser o gurizinho da capa do álbum, que se diverte brincando com fogo de palha de aço. A costura de ritmos latinos com rock é incandescente e cresce a cada audição, mostrando que o sexteto sabe bem o que está fazendo. O amor permeia os temas de Lokura Plena, seja ele impossível (Solução), problemático (Irresponsável), por uma identidade cultural (Hermanamos), pela birita (Cachaça Loka) ou pelo futebol (Aguante). Fechando com a pesadíssima Eu não gosto de samba, a Bombo promove uma interessante conexão com outro movimento de mestiçagem musical que mudou os rumos da música no Brasil: o manguebeat. Por isso, é bom não tirar os olhos (e ouvidos) dessa galera. Rock, 9 faixas, Ué Discos, disponível para audição nos serviços de streaming
SING STREET
Vários
Essa delicinha de comédia musical que está disponível no Netflix traz uma das melhores trilhas sonoras do ano. A história é básica _ garoto monta banda para conquistar garota _, com a diferença que ele está na Dublin dos anos 1980 ouvindo toneladas de synth pop e pós-punk. Se inspirando no imaginário musical da época, o diretor John Carney e o compositor Gary Clark compuseram canções originais tão boas que em muitos momentos você se pega pensando a qual banda "real" ela pertence. Drive it like you stole it, por exemplo, poderia ter sido gravada pelo Human League. Além das músicas compostas para o filme, a trilha traz ainda clássicos da época como Inbetween days (The Cure), Maneater (Hall & Oates), Rio (Duran Duran) e Town called malice (The Jam). Pop, 17 faixas, Decca Records, disponível para a audição nos serviços de streaming.