Nando Reis sempre foi um artista que prezou pela coletividade. Não à toa, integrou a banda mais numerosa do rock brasileiro. Em carreira solo, seguiu cercando-se de gente, estabelecendo conexões e construindo pontes. Não seria diferente em Jardim-pomar, recém-lançado novo disco do ruivo – que, ironicamente, é também seu primeiro trabalho 100% independente.
Jardim-pomar foi gravado em diferentes momentos, em locais distintos e ao lado de muitos parceiros. Começou a ser registrado em junho do ano passado em Seattle, nos Estados Unidos, e foi finalizado exatamente um ano depois em São Paulo. Por telefone, Nando confessa que nunca havia participado de um processo tão longo de produção, mas que acabou sendo inevitável pela sua natureza.
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– Este disco é resultado de planejamento, mas também de casualidade – conta o músico. – Como foi a primeira vez em que tive controle sobre absolutamente tudo, também precisei obedecer a um fluxo de caixa. Por outro lado, esse tempo de maturação foi muito bom para a música, porque ela pôde se desenvolver para lugares que, de outra forma, não se desenvolveria.
Nando cita o single Só posso dizer, que aparece duas vezes no álbum: em sua primeira encarnação, gravada em Seattle, e em uma nova roupagem, bem diferente, feita no Brasil.
– Quando ouvi a primeira versão, notei que estava meio lenta, e daí fizemos uma outra que me agradou mais. Ter tempo me permitiu avaliar melhor essa música e tomar a decisão de retrabalhá-la – explica o músico.
Esse tempo serviu também para rechear o disco de parcerias. Nos EUA, Nando trabalhou com o produtor e velho amigo Jack Endino (que também toca guitarra nas três primeiras faixas), além dos guitarristas Peter Buck (ex-R.E.M.) e Mike McCready (Pearl Jam). Do baú com o parceiro Samuel Rosa (Skank), resgatou a faixa Como somos, enquanto os filhos Théo e Sebastião Reis, da banda Dois Reis, participam de Infinito oito.
Mas surpresa mesmo é Azul de presunto, que além de Pitty, Luiza Possi e Tulipa Ruiz (e da filha Zoe Reis) reúne seus ex-companheiros de Titãs Paulo Miklos, Branco Mello, Arnaldo Antunes e Sérgio Britto.
– A gente se deu conta que fazia 25 anos que não nos reuníamos em um estúdio para gravar juntos – comenta Nando. – E não tinha como ser diferente, porque é uma música que tem um quê de Titãs. Essa canção tem muito a ver com nosso humor, é provocativa e desconcertante. Foi emocionante.
Musicalmente, Jardim-pomar é um típico disco de Nando Reis: bem executado, cheio de influências e que vai para vários lugares. Infinito oito apresenta guitarras funkeadas, meio jazzy, com naipe de metais colorindo; Deus meu tem aquela pegada de alt-rock com predomínio de piano e sopros; Lobo preso em renda e Pra onde foi? bebem no rock sessentista e estão encharcadas de soul. Há espaço também para baladas ao violão, como Só posso dizer e Como somos.
– Acho que é o meu disco mais completo e complexo, mais trabalhoso, mas ficou exatamente do jeito que eu queria – sentencia Nando.