O escritor israelense David Grossman é o convidado deste domingo da Feira do Livro de Porto Alegre para o bate-papo Uma literatura pela paz. Autor de livros que analisam a questão Israel-Palestina, como Fora do tempo e O inferno dos outros, Grossman dividirá o palco com a escritora Adriana Carranca, autora de O Afeganistão Depois do Talibã e Malala, a menina que queria ir para a escola.
O evento é uma realização do Fronteiras do Pensamento idealizado em parceria com a Braskem e a Feira do Livro de Porto Alegre, e está marcado para às 11h, no Theatro São Pedro, com entrada franca.
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No sábado, Grossman caminhou pelo corredores da Feira e conversou com Adriana a respeito de seu trabalho.
Vamos começar falando sobre o seu processo criativo. Como ele funciona? De onde vem as ideias para a construção de um personagem, por exemplo?
Se eu soubesse de onde vem as ideias, eu ficaria sentado lá o dia inteiro (risos). Na verdade, vem de todo lugar, de um sonho, de pessoas conversando, de um passeio pelas ruas, algo que meus filhos me perguntaram. O mundo é cheio de boas ideias, o que significa que quando eu escrevo a respeito de algo, o mundo inteiro colaborou. As pistas vem o tempo todo e de todo lugar. Quando eu escrevo sobre o amor, todo mundo está apaixonado, quando escrevo sobre ciúmes, todos estão enciumados, quando falo de conspiração, todos estão suspeitando de todos.
Você sabe quem estes personagens são ou para onde vão antes de começar a escrever?
Nunca. Eu sequer sei se será uma novela, um romance ou outra coisa. Eu estou sempre à procura de personagens, como um caçador faminto, porque as dicas podem vir de qualquer pessoa, de qualquer gesto. Todos os meus sentidos estão aberto para absorver essas influências. Eu realmente amo essa fase, quando eu só tenho uma vaga ideia do que quero escrever ou só tenho uma vaga ideia sobre se eu preciso escrever. Essa, na verdade, é a pergunta que me faço todos os dias: por que essa história é relevante para mim? Porque se eu não tiver que escrevê-la, eu nem tentarei. Por outro lado, se a história insistir em mim, deixo acontecer. Eu normalmente decido isso depois que a história está me aterrorizando por um ou dois anos.
O seu personagem em O inferno dos outros é um comediante. Como ele surgiu?
Assim (estala os dedos e ri). Eu tinha a história sobre um jovem garoto, de 14 anos, ele vive uma vida muito simbiótica com seus pais quando precisa ir para um acampamento militar durante o colégio, que é algo comum aos israelenses. Ele então recebe a notícia de que precisa voltar para ir ao enterro dos seus pais, mas ele não sabe se é seu pai ou sua mãe. E durante uma longa viagem de quatro horas, ele começa a pensar que precisa decidir quem ele gostaria que estivesse morto, seu pai ou sua mãe. Então, ele passa a se tornar o assassino de um deles e o salvador do outro.