One nation under a groove é o título de um dos discos mais célebres da banda americana Funkadelic. Lançado em 1978, serve também como palavra de ordem: uma nação na batida, no balanço, numa tradução livre. Orgulhoso cidadão deste grande país, Tonho Crocco não fugiu à regra em Das galáxias, seu terceiro trabalho solo.
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Lançado com suporte do edital Natural Musical, o álbum foi composto na ponte aérea Rio de Janeiro-Porto Alegre entre 2013 e 2015, período em que Crocco havia diminuído o ritmo de divulgação do álbum anterior, O lado brilhante da lua (2011), e se dividia entre as duas cidades antes de se estabelecer novamente na capital gaúcha. O período é o mesmo em que a Ultramen, banda da qual Crocco é um dos vocalistas e compositores, esteve em coma. Coincidentemente, o grupo também está botando na praça um novo trabalho – o DVD Máquina do tempo, aguardado registro do show que decretou o fim temporário das atividades da banda em 2008 e agora marca seu retorno.
Ligando os dois trabalhos está um artista que nunca deu bola para rótulos e cujo único movimento que decidiu seguir foi o dos quadris – e dos pés, dos braços, enfim. Em Das galáxias, Crocco repete propositalmente a fórmula do premiado O lado brilhante... (fórmula que lhe rendeu o Prêmio Açorianos de melhor disco pop de 2011), misturando gêneros e subgêneros da música negra para chegar em um repertório voltado para dançar.
– Minhas influências variam em torno do samba e da música americana, como jazz, soul e R&B – explica Crocco. – E como não queria que saísse muito diferente do O lado brilhante..., trouxe novamente os mesmos elementos. Então tem afrobeat, música instrumental, abre com beat box e termina em samba, claro, porque tudo no Brasil precisa terminar em samba.
São nove composições, sete de autoria de Crocco e duas parcerias – os sambas O bonde da história, com Eduardo Pita, e É com jabá, com Carlinhos Presidente. Baobá, afrobeat que abre o disco depois da vinheta O corpo e seus limites, tem participação do rapper BNegão.
Mérito vai também para a banda Partenon 80
Primeiro single do disco, a balada Zerado o placar puxa para o soul de tempero brasileiro de Tim Maia e Cassiano – de quem Crocco é discípulo declarado desde sempre. Na sequência, o funk toma conta e se mistura com a disco music e ganha naipe de metais pesadíssimos em Arp 87 e Das galáxias respectivamente. Se Das galáxias fosse um disco de vinil, Águas quebradas abriria o lado samba do trabalho, com o samba-canção O bonde da história, o partido alto É com jabá e a romântica Além dos meus lençóis.
Ouça o álbum na íntegra:
Muito do mérito dessa mistura toda não ter desandado é também da Partenon 80, banda que há anos acompanha Crocco e é atualmente composta por Everton Velasquez (baixo), Marco Farias (teclado), Gelson Ribeiro (bateria), Bruno Coelho (percussão), Roberto Scopel (trompete), Dejeane Arruee (trombone) e Rodrigo Siervo (sax e flauta).
– A Partenon 80 toca junto há uns cinco anos. Esse sincronismo, essa intimidade para gravar em estúdio e tocar ao vivo acaba fazendo toda a diferença – reconhece Crocco.
Mesmo em um cenário variado e aberto a experimentações como o de Porto Alegre, Crocco não se preocupa em procurar um escaninho para colocar seu trabalho. Prefere a liberdade que apenas os que estão sob o groove do Funkadelic de George Clinton podem desfrutar:
– Já fiz de tudo. Hardcore, reggae, metal, samba-canção, dub, já cantei Lupicínio Rodrigues. Procuro aquilo que faz o corpo mexer. Se mexe o corpo, se faz feliz, então está indo pro lugar certo.