A crônica é um gênero inegavelmente diurno. Chega com o jornal. Se a perdemos no café da manhã, bebemo-la no intervalo do trabalho, no transporte público, no espaço compulsório de uma espera, quando muito, furtamo-la sobre os ombros de alguém à hora do almoço. Por isso, seus assuntos são as coisas do dia: a política, o esporte, a cultura e os costumes. Se a crônica é um pouco mais íntima, se se nutre de reminiscências e de anedotas pessoais, ainda assim mantêm a virtude das conversas cotidianas, raramente ganhando o tom grave que reservamos às coisas da noite. Poderia pensar em inúmeros poemas que se passam ao anoitecer, de madrugada, que foram concebidos para nos envolver como o sereno. E nem precisamos ir aos românticos que veneravam a lua encharcados de melancolia, versos noturnos estão por toda parte (não sei quantas vezes é noite em Drummond, quantos vinhos os poetas chineses beberam ao relento). Peço, em contrapartida, que vocês tentem se lembrar de quantas crônicas frequentam esses lugares. Seguro que as há, mas é de contar nos dedos.
Coluna
Pedro Gonzaga: Noite
O colunista escreve quinzenalmente para o 2º Caderno
Pedro Gonzaga