Em sua palestra desta segunda-feira no Fronteiras do Pensamento o americano Robert Darnton fez uma análise sobre três momentos da história em que a censura mudou a literatura. Mas não só de passado tratou a conferência: ao final de sua fala, Darnton alertou que a censura ocorre em sociedades nas quais o poder está restrito a um monopólio e chamou atenção para o fato de grandes corporações terem atualmente o controle da informação.
– Precisamos entender a censura, não apenas condená-la. Mas também é preciso assumir posições, especialmente quando o estado, com o Google e o Facebook, nos observa a cada passo que damos – afirmou o conferencista.
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Pioneiro no estudo da história do livro e diretor da Biblioteca de Harvard, Darnton também apontou pontos positivos na internet. O americano trabalha em um projeto para digitalizar o acervo de Harvard e disponibilizá-lo ao público geral, se mostrando otimista com ações como essa – ele acredita que, em dez anos, um banco de dados virtual poderá unificar materiais de diferentes universidades do mudo. Porém, o palestrante também reafirmou desconfiança em relação ao controle dos dados da população que trafegam pela rede:
– Não tenho formação para debater sobre internet, mas, como chefe da Biblioteca de Harvard, acredito que o mundo digital pode ser usado para o bem. Mas temos um sistema de tecnologia que entra no cotidiano das pessoas, e isso traz a possibilidade dos estados intervirem e terem o registro do que faz a população. Já disseram que os serviços de inteligência podem ler tudo o que é registrado. Então, o estado está observando o comportamento do consumidores, e a justificativa para isso é a defesa ao terrorismo.
Em uma hora e meio de palestra no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre, o historiador comparou três períodos do passado em que a censura teve forte atuação: na França absolutista do século 18, na Índia do século 19 e na Alemanha Oriental. O pesquisador estudou por anos cada um dos sistemas de censura citados – as investigações deram origem a seu mais recente livro, Censores em ação, editado no Brasil pela Companhia das Letras.
Para Darnton, a crítica aos censores muitas vezes é feita de modo simplista, descartando estudos mais aprofundados a respeito do tema.
– Após conhecer esses três sistemas, concluí que a censura não é a mesma coisa em todos os lugares. É variável, conforme o caráter de cada governo. É preciso estudá-la não como uma vilã em um enredo, mas como parte de um sistema em que toda a sociedade está envolvida – avaliou.
Darnton também chamou atenção para o risco de tornar o conceito de censura banal:
– Quando pergunto ao meus alunos o que é censura, eles dizem que é ter que usar gravata e escovar os dentes todas as noites. Se tudo é censura, logo nada também será. É preciso evitar essa banalização. Para isso, temos que resgatar a história de autores que viveram verdadeiras situações de repressão.