Uma prática que já é comum em baladas consideradas alternativas e voltadas ao público LGBTS chega a Jurerê Internacional, em Florianópolis, e levanta a discussão sobre igualdade de gênero na noite. O Terraza, clube do Grupo All localizado no complexo Music Park, anunciou que vai passar a cobrar o mesmo valor de ingressos para homens e mulheres a partir desta sexta-feira. A estreia deste formato será na festa Free Pussy Riots, que tem um line-up formado apenas por mulheres, com as DJs Aninha, Eli Iwasa, Antonela Giampietro, Laurianna e Emmy Betiol. O valor das entradas (custam R$ 60 no 2º lote) é intermediário, portanto elas pagarão um pouco mais do que estavam acostumadas, e eles um pouco menos.
A decisão pela mudança não foi simples porque o tema envolve razões econômicas e culturais, o que pode gerar rejeição por parte dos frequentadores. No Terraza, a definição foi possível porque o local, apesar de pertencer a um grande grupo de entretenimento, reúne um público específico que está mais interessado na música do que na paquera, por exemplo.
– Ele é mais pensante, interessado na cena musical que está sendo construída. Tem público gay, feminista, então, é inevitável que a gente comece a fazer perguntas. É também diferente de outras casas porque o DJ fica na mesma altura da pista, assim como os camarotes. Já tinha uma preocupação de levantar essas questões e falar do que realmente importa, a música – comenta o produtor Isaac Varzim.
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Nas outras casas do Grupo All, como Posh, Pacha e o próprio Devassa on Stage, os preços diferenciados seguem sendo praticados - modelo, aliás, que é repetido na maioria das baladas pelo Estado.
– O Terraza atrai pessoas que buscam tendências, novos artistas. Então fica mais fácil trazer essas inovações que quebram paradigmas – resume Fabio Aubin, gerente de marketing do Grupo All.
A notícia do Terraza, porém, causou polêmica entre os baladeiros nas redes sociais. Enquanto alguns parabenizaram a iniciativa, considerando-a justa, outros ironizaram: "as mulheres pediram igualdade, agora vão ter que pagar mais para entrar na festa". O fato é que muita gente está questionando a prática do ingresso diferenciado, que não têm um motivo muito claro a não ser o de atrair público feminino, que por sua vez atrai o masculino, que supostamente gasta mais, dando mais lucro ao estabelecimento. Entre as mulheres à favor da decisão, uma frase muito usada foi: "se você não paga por um produto, você é o produto".
– Nos lugares que frequento sempre paguei por ingressos mais baratos. Isso incomoda, pois buscava me divertir da mesma forma que qualquer outra pessoa e o fato de não estar pagando fazia eu me sentir muita vezes uma "isca" ou "mercadoria" – opina a estudante Giovana Isabel Tose, de Ibirama, uma das que se manifestaram na página do DC no Facebook.
O DC também fez uma enquete no Twitter para saber a opinião dos leitores. 81% dos usuários acreditam que homens e mulheres têm que pagar o mesmo valor para entrar na balada. Confira:
Mas a opinião do público feminino não é unânime. Apesar de propor igualdade, a decisão do Terraza não ganhou o apoio de todas as mulheres e muitas se manifestaram contra no Facebook. Entre os principais argumentos está o fato de que os homens ainda têm salários maiores e por isso a cobrança igualitária seja injusta.
– Achei uma iniciativa legal incentivar a igualdade. Mas será que vai ser possível começar essa igualdade por este setor? Sabemos que, no geral, as mulheres ainda não ganham o mesmo salário que os homens para desempenhar a mesma função, então por que deveriam pagar igual para se divertir? – alega a coordenadora de logística Elen Caroline de Almeida, de São José.
Apesar disso, ela concorda que as entradas mais baratas possam fazer com que as mulheres se sintam "iscas":
– Infelizmente somos vistas como um produto para as festas, porque somos nós que atraímos o público do sexo oposto, que é quem realmente gasta lá dentro.
Para Clair Castilhos, secretária-executiva da Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e uma das fundadoras do grupo feminista Casa da Mulher Catarina, a justificativa de que as mulheres ganham menos é equivocada, assim como a alegação de que é uma questão cultural.
– Alegar isso significa que aceitamos ganhar menos, o que não está certo. Temos, sim, que lutar para ganhar mais. A luta pela igualdade tem que ser em todas as esferas. Justamente por ser cultural é que pode ser mudado. A cultura é uma criação das civilizações humanas – defende.
A resposta do público masculino foi, em sua maioria, positiva. Muitos homens elogiaram a atitude do clube de Florianópolis. O desenhista industrial Guilherme Weidmann espera que outras casas noturnas façam o mesmo:
– Apoio totalmente os direitos iguais, porém que sejam os mesmos direitos para todos. Se elas entram de graça, eles entram também. Se elas pagam por exemplo, R$ 35 por um ingresso, por que nós temos que pagar R$ 75? Para que a balada não perca dinheiro, nós homens pagamos a mais por isso – reclama.
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