O tamanho da minha desilusão com o Lee pode ser medido pela seguinte constatação: na derradeira prova do episódio desta terça-feira, me vi torcendo para que ele fosse o eliminado do MasterChef Brasil, e não a Paula, a quem – o Google comprova – sempre chamei de "insuportável". Melhor que os dois tivessem dado adeus ao avental. Mas já que apenas a produtora carioca foi mandada embora, ok, pelo menos não teremos mais as dancinhas à la Friends, as citações de Rocky Balboa e a montanha-russa de emoções: as risadas desbragadas nos depoimentos eram sucedidas por caras de choro após seus pratos receberem críticas dos jurados.
Voltando ao Lee. O médico cinquentão, nascido em Taiwan, pegou quase todo mundo pelo coração quando surgiu no programa. Inventivo, parecia uma versão masculina da saudosa Jiang, com menos sotaque e mais sustentabilidade. Veio com um discurso de combate ao desperdício, um sonho de erradicar a fome do mundo.
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Ao longo da temporada, foi perdendo a mão e soltando o verbo – não bastasse seu pedantismo (traduzido em uma série de declarações em inglês), também já mostrou sua veia maldosinha. Certa noite, disse que o Leo tinha sido o pior líder com quem ele trabalhou – e depois apareceu abraçando o Leo e dizendo que tinha sido ótimo. Essa falsidade já havia sido, digamos, denunciada pelo finado Pedro, numa treta até hoje mal explicada: o carioca insinuou que Lee era milionário e estava enganando o Brasil.
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Mas tudo bem, MasterChef não é – só – uma competição de carisma (faço questão de frisar, porque, sejamos honestos: vocês acompanham o programa apenas pelos pratos servidos? O comportamento, as atitudes, o humor dos participantes não influi nada, nadinha na torcida ou na ojeriza de vocês?). Então, vamos nos ater à comida preparada pelo Lee. Já faz um tempo que esse lado Mr. Sustainability ficou nas sombras. A Paola flagrou isso mais de uma vez – na última, disse que não faz sentido descartar outras partes do brócolis só para mostrar que se pode aproveitar o talo. E também já faz tempo que seus únicos pontos em comum com a Jiang são a origem étnica e o combate feroz contra o relógio. O tempo exerce uma pressão danada sobre Lee, que – me corrijam se eu estiver errado ou se eu estiver sendo injusto –, nos episódios mais recentes, só brilhou naquela deliciosa torta com massa de castanha, ganache de chocolate e espuma de banana.
No episódio desta terça-feira, o médico fez um monstro. Aquele prato de linguicinha com brócolis e purê de abobrinha foi um dos mais feios já servidos na temporada. Olhando daqui, de longe, parecia que minha filha caçula tinha mastigado a carne e cuspido nos vãos formados pelas arvorezinhas de bóquis, como a Aurora chama. Não à toa, mereceu palavras duras do Jacquin:
– Comida sem graça nenhuma. Sem gosto, sem sal, sem nada.
É preciso dizer: Lee não foi o único a receber uma das definições demolidoras do jurado francês. A primeira prova evidenciou, pela milésima vez (e já até cansei de escrever isso; desculpem-me se estou usando as mesmas palavras), o baixo nível técnico dos competidores desta temporada. A caixa misteriosa revelou sal, pimenta e uma coleção de azeites. O desafio era criar uma receita doce ou salgada ressaltando esses temperos. A pegadinha era que, a cada ingrediente escolhido no mercado, o participante teria cinco minutos a menos de cozinha. Foi um convite à simplicidade.
Bem, dos sete concorrentes, os sete que, em tese, são os melhores do MasterChef Brasil 3, apenas dois tiveram os pratos elogiados. Fábio ganhou com seu robalo brilhante – uma ótima tirada do gaúcho, que soube brincar com seu passado no programa (ele entrou graças a um frango perfeito, lembram?, o que gerou críticas dos jurados por conta de uma suposta – ou não – arrogância) e com o visual de seu peixe. Luriana também subiu ao mezanino com um prato apetitoso até na sonoridade: costelinha de tambaqui.
Os cinco piores foram para uma empolgante e surpreendente prova de eliminação. Eu bem que estranhei quando olhei para o relógio e vi que estava muito cedo – 23h30min, por aí – para o programa estar terminando. A prova teve três etapas, com receitas em 20, 15 e 10 minutos. Na primeira, a do salmão, Raquel e Bruna despontaram. Na segunda, a do filé mignon, Leo se safou. Ficaram para a última etapa, a das vieiras, Lee e Paula. Ele fez vieiras com molho de limão e endro (muito prazer, meu nome é Ticiano). Ela fez vieiras acompanhadas por carpaccio de maçã verde. Os dois mandaram bem, e coube a Paula pagar o pato.
Sobraram seis na disputa, e eu não sei para quem torcer. Todos já passaram por altos e baixos, mesmo a Raquel, desde o início apontada como uma favorita. Falta, ao meu ver, consistência, regularidade aos candidatos. Na comparação com a temporada anterior, falta também carisma – nenhum dos remanescentes chega perto de um Cristiano, de uma Jiang, de um Raul, mesmo de um Fernando, o "vilão" do MasterChef 2. Para quem torcer? Estou começando a pender para o Leo e o Fábio, mais por escassez de opções do que por mérito dos rapazes. Que chegue logo a próxima terça para a última prova de equipe. Quem sabe lá apareça, enfim, um bom candidato a chef.
P.S. 1: a melhor piada da noite só poderia ter sido do Jacquin: "Você não gosta de peito grande?".
P.S. 2: Bruna mudou de ideia no meio da primeira prova e foi espinafrada. Paola comparou seu bolinho cremoso de abobrinha a uma massinha de modelar. O troço chegou a quicar.
P.S. 3: vocês assistiram à Prévia? Se eu entendi bem, o Aluísio tem o rosto da mãe tatuado na coxa. Confere, produção? O rosto da mãe. Tatuado na coxa. Isso aumenta o sex appeal do chef pirata?
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