Assim que a voz potente de Edgar Pozzer cantou as primeiras notas de Emoções, quem ainda terminava o jantar servido com fartura no grande salão do Clube Caixeiros Viajantes inevitavelmente colocou o prato de lado, puxou o companheiro pelo braço e, em passos suingados, foi à pista de dança, onde dezenas de casais já moviam-se de cabeça colada ao som do clássico de Roberto Carlos.
Eram 22h30min de sexta, antevéspera de Dia dos Namorados, e o show de um dos cantores românticos mais longevos do Rio Grande do Sul estava começando – aos 77 anos, o caxiense do bairro de Galópolis iria levar a festa, ao lado de convidados e amigos que também subiriam ao palco, até depois das 5h da manhã, com boleros, tangos e, principalmente, temas românticos cantados em italiano, gênero que o colocou no mundo da música há mais de 50 anos e que ainda leva centenas de fãs a seus shows.
Pozzer é um expoente da música romântica gaúcha: aos 10 anos, já tinha troféus de prêmios radiofônicos locais; aos 19, recebia o título de A Voz de Ouro ABC, das rádios Tupi e Difusora, na etapa estadual de um prêmio nacional; nos anos seguintes, apresentaria programas musicais na Rádio Farroupilha e na TV Piratini, se tornaria garoto-propaganda de cigarro e ganharia o cobiçado posto de voz do Conjunto Melódico Norberto Baldauf, que por décadas fez a trilha sonora de bailes em todo o Estado.
Hoje, Pozzer é um senhor alto e corpulento, que mantém os cabelos brancos caprichosamente penteados e veste-se num elegante terno de veludo azul marinho. A expressão é carismática, e os movimentos são de um apresentador de um programa de auditório.
No Caixeiros Viajantes, Pozzer levou ao palco pela primeira vez seu show Serata per ricordare, título que deu à seleção de baladas românticas que pretende apresentar de duas a três vezes por ano – a segunda edição deve ser realizada ainda em 2016, e a ideia é manter o projeto por tempo indeterminado. Se a apresentação começa com Roberto Carlos, as horas seguintes passarão a limpo boa parte do repertório romântico dos anos 1960 e 70, de Volare a Mercedita – com acréscimos como o Canto alegretense. Com ingressos a R$ 120, o evento da sexta-feira lotou.
– A gente adora, porque é o único lugar onde ainda dá para ouvir esse tipo de música, de baile, italiana, para dançar de rosto colado. Lembra a nossa juventude – conta a aposentada Suzana Dantas, 70 anos, que se divertia ao lado de Ivo Behle, 73.
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No dia anterior ao show, Pozzer atendeu ao telefone com uma voz apressada. Preferiu não conversar por muito tempo, para não danificar a voz. O cuidado se manteve no dia seguinte, horas antes da apresentação: enquanto os convidados se esbaldavam com os comes e bebes, o crooner andava de lá para cá pelo salão, conversava com o tecladista Heitor Barbosa (companheiro desde a época do Norberto Baldauf e único músico que o acompanha no palco), dava instruções aos funcionários e repassava o repertório grafado em papéis soltos pelo palco.
O nervosismo do anfitrião, no entanto, parece evaporar quando o microfone é ligado: com seu vozeirão, relembra "os tempos de Bailes da Reitoria da UFRGS", evento em que o Norberto Baldauf fez história, cita os nomes de alguns convidados, faz brincadeiras com o repertório – "música para coroa" – e logo pede para que o tecladista dê o play na base de Emoções.
É aí que a plateia, formada por cerca de 300 homens e mulheres entre seus 60 e 70 anos, ignora o frio e o horário e cai na balada.