Sônia Braga reagiu às críticas de Marcelo Calero ao protesto do elenco do filme Aquarius em Cannes. O ministro da Cultura falou ao programa Preto no Branco, do Canal Brasil, que a ação causa "prejuízos à reputação e à imagem do país", e classificou como "uma irresponsabilidade quase infantil" comparar o atual momento político do país com o do golpe de 1964. Protagonista do longa, a atriz publicou em seu perfil no Facebook uma resposta aberta a Calero.
"O Ministro da Cultura ofendendo artistas é inadmissível. O senhor está nesse cargo para dialogar, para nos ajudar, para fazer a ponte com quem nos explora.", afirmou Sônia.
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Na mensagem, a atriz também rebateu o argumento de Calero de que o protesto seria "até um pouco totalitário, porque você quer pretender que aquela sua visão específica realmente cobre a imagem de um país inteiro".
"Isso é desconhecimento do que significa plena democracia. Se estivéssemos falando em nome de todos não precisaríamos, evidentemente, fazer o ato. Uma coisa é certa: estamos juntos", diz o texto de Sônia.
O comunicado da atriz começa afirmando que será uma "aula de História para o senhor Marcelo Calero, 33 anos de idade. Eu, só de profissão, tenho 50". Diz o texto: "Na época da Abertura, os artistas não tinham sequer uma lei que regulasse a profissão. Essa lei foi promulgada em 1978, depois de muita luta, da qual tive a honra de participar. Naquela época, acredito, o senhor Marcelo ainda não havia nascido. Por isso, não deve ainda ter tido tempo de aprender sobre os nossos problemas e os nossos direitos".
Por fim, Sônia lembra que Aquarius, dirigido por Kleber Mendonça Filho, foi um sucesso de crítica no 69º Festival de Cannes: "A propósito, as críticas para Aquarius foram fabulosas".
Leia a íntegra do comunicado:
Aula de História para o senhor Marcelo Calero, 33 anos de idade.
Eu, só de profissão, tenho 50.
Na época da Abertura, os artistas não tinham sequer uma lei que regulasse a profissão. Essa lei foi promulgada em 1978, depois de muita luta, da qual tive a honra de participar.
Naquela época, acredito, o senhor Marcelo ainda não havia nascido. Por isso, não deve ainda ter tido tempo de aprender sobre os nossos problemas e os nossos direitos.
E pouco se importou, ou não notou, que uma atriz brasileira era campeã de bilheteria do cinema brasileiro e sustentou este título por 30 anos - também ganhando, com filmes brasileiros, além de projeção internacional, muitos prêmios no exterior, promovendo assim o nome de Brasil e de nossa cultura.
Como pode um Ministro dizer que um ato democrático como o nosso é a representação de um País inteiro?
Isso é desconhecimento do que significa plena democracia. Se estivéssemos falando em nome de todos não precisaríamos, evidentemente, fazer o ato.
Uma coisa é certa: estamos juntos.
O Ministro da Cultura ofendendo artistas é inadmissível. O senhor está nesse cargo para dialogar, para nos ajudar, para fazer a ponte com quem nos explora.
A propósito, as críticas para Aquarius foram fabulosas. Quatro estrelas em jornais franceses, italianos, poloneses, russos e três citações no The New York Times. Ponto grande para a imagem da cultura brasileira no exterior.
Senhor Ministro, não podemos perder as nossas conquistas. Sobretudo a mais importante delas, o respeito.