Uma mulher nua, encolhida dentro de uma armação de madeira, destoava do cenário habitual na Redenção, em Porto Alegre, no final da manhã deste domingo. Próximo ao Monumento ao Expedicionário, Carina Sehn, 35 anos, executava a performance In(penetrável), atração do 8º Festival Internacional de Teatro de Rua de Porto Alegre. Ao interpretar um ser dentro de um casulo – um cubo vazado, nas dimensões de 70cm x 70cm –, a atriz queria provocar os frequentadores no dia de maior movimento.
– Eu ofereço uma imagem para se pensar a partir dela. Pensar nas relações humanas, na relação com o meio ambiente, na solidão. Essa ação é um disparo de provocações: existe solidão? Que tipo de solidão existe hoje? Como é a solidão contemporânea? – questionou Carina instantes antes de livrar-se do lençol que a envolvia e descalçar o par de tênis, sentando-se no gramado para iniciar o processo de concentração.
Cachorros corriam pelo canteiro central, e não demorou até que um se aproximasse e erguesse uma das patas traseiras, urinando na estrutura que envolvia Carina. Outro cão logo fez o mesmo. Os passantes se dividiam entre a censura e o apoio à intervenção inusitada.
– Qual a moral disso? – resmungou um homem, buscando explicação em um cartaz de divulgação do evento.
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Luciene Jung de Campos, professora universitária e psicóloga, saudou a iniciativa:
– O artista é muito generoso. Ela consegue ficar nesse frio, nua, para nos dizer alguma coisa sobre nossa cultura, nossa situação.
Jorge Andriotti, técnico em mecânica, e Anaí Antunes, educadora, tentavam explicar a "escultura social" ao filho, João Pedro, 11 anos. Posaram para fotos com a artista ao fundo.
– De longe achei que fosse uma estátua – contou Jorge. – Me surpreendeu a coragem da moça. Nossa cidade é meio conservadora.
Anaí, preocupada com a pele clara da performer ao sol, completou:
– Achei bem ousada a maneira como ela interage com o mundo. Qual o problema com a nudez? Ninguém nasce de roupa.