Os curtas do mineiro André Novais e do baiano radicado em Curitiba Aly Muritiba, ou ainda O menino do cinco, de Marcelo Matos e Wallace Nogueira, e Sem coração, de Tião e Nara Normande. Os gaúchos Se essa lua fosse minha, com direção coletiva, e Castillo y el armado, de Pedro Harres. São todos filmes de destaque da produção nacional recente, aos quais o público só pôde ter acesso em ocasiões especiais – festivais ou mostras, sobretudo.
Em Porto Alegre, todos foram exibidos no Diálogo de Cinema, projeto criado por um grupo de jovens cineastas em 2013, que depois de um hiato de um ano chega à terceira edição, de hoje a domingo, na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro.
– Foi um processo natural – explica Lucas Cassales, da Sofá Verde Filmes (de curtas como O corpo, vencedor do Festival de Gramado), correalizadora do evento junto à Avante Filmes (do longa Beira-mar, de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon). – Começamos a ir aos festivais pelo Brasil e percebemos que Porto Alegre não tinha um evento assim. Resolvemos abrir essa janela de exibição para os curtas-metragens, formato de difícil diálogo com o público.
Nessa janela cabem os curtas e também os longas-metragens, formato que, afinal de contas, parece ter sido o escolhido pela chamada novíssima geração para arejar a cinematografia nacional: o Diálogo de Cinema costuma ser aberto e encerrado com um longa inédito no circuito cuja proposta estética se alinhe a esse movimento informal que marca a produção recente do país. Neste ano, as escolhas recaíram sobre Júlio Bressane, cujo novo filme, Garoto, encerrará o evento, no domingo, e sobre Banco imobiliário, documentário dirigido por Miguel Ramos que discute a especulação imobiliária em São Paulo.
– A escolha deste último, para exibição na Sala P.F. Gastal, que neste momento está situada em meio a um canteiro de obras, é um ato afirmativo – diz Cassales.
Toda a programação do 3º Diálogo de Cinema terá lugar na sala da Usina do Gasômetro – com entrada gratuita. Além dos longas de abertura e encerramento, haverá outras 10 sessões de curtas, três para apresentar os selecionados internacionais, uma chamada Sala de Estar, com filmes produzidos por membros da equipe do festival, e outras seis dedicadas às mostras competitivas Diálogo (de curtas nacionais) e Cercanias (gaúchos), que tem títulos escolhidos entre 470 inscritos. Leia mais sobre cada uma delas abaixo.
A PROGRAMAÇÃO
São quatro mostras de curtas e dois longas-metragens, todos com sessões gratuitas, na Sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro. Confira:
Panorama nacional
A mostra competitiva Diálogo apresentará 16 curtas brasileiros recentes, vindos de nove Estados. Entre estes estão A outra margem (MS), de Nathália Tereza, melhor direção no Festival de Brasília; História de uma pena (CE), de Leonardo Mouramateus, exibido em Locarno; e Solon (MG), de Clarissa Campolina, codiretora do longa Girimunho (2011); além de Horror (RS), assinado pelo crítico Leonardo Bomfim. Sessões às 20h de quarta, quinta e sexta-feira.
Da casa
A mostra Cercanias, também competitiva, é composta por 12 curtas gaúchos. Em destaque, títulos como Bruxa de fábrica, de Jonas Costa (um dos responsáveis por Se essa lua fosse minha, curta vencedor de Gramado 2014); Another empty space, de Davi de Oliveira Pinheiro (do longa-metragem Porto dos mortos); Entre os dias, de Giovani Borba (um dos idealizadores da Sessão Plataforma); Desenredo, de Felipe Diniz (o diretor de Por onde passeiam tempos mortos); e Ne pas projeter, de Cristian Verardi (selecionado para o Sitges Festival, na Catalunha). Sessões às 18h de quarta, quinta e sexta-feira.
Mais da casa ainda
Sala de Estar, a única das quatro mostras de curtas que não é competitiva, exibe quatro filmes realizados por integrantes da equipe do Diálogo de Cinema. É a oportunidade para ver O corpo, de Lucas Cassales, O teto sobre nós, de Bruno Carboni (vencedores dos dois principais troféus de Gramado 2015), Pele de concreto, de Daniel de Bem, e Objetos, de Germano Oliveira, quatro dos melhores curtas realizados no RS nos últimos anos. Sessão domingo, às 16h.
Viagem cinéfila
Filmes de EUA, Vietnã, Argentina e diversos países europeus compõem a mostra internacional, que, diferentemente das outras competições, entrega apenas um troféu – de melhor filme pelo júri popular. Concorre pelo prêmio, entre outros, O retorno de um homem (A man returned), do libanês radicado na Dinamarca Mahdi Fleifel, que venceu a competição de curtas do Festival de Berlim deste ano. E também Atravessando paredes (It can pass through the wall), que tem a assinatura do romeno Radu Jude, melhor diretor de longa-metragem em Berlim 2015 por Aferim. Sessões sábado, às 17h e 19h, e domingo, às 18h.
Dois longas
Os curtas constituem a marca mais forte do Diálogo de Cinema, mas as sessões de abertura e encerramento oferecem aos cinéfilos porto-alegrenses a chance de ver longas-metragens brasileiros que ainda estão inéditos no circuito. Nesta terça, às 20h, tem o documentário Banco imobiliário, de Miguel Antunes Ramos, sobre a especulação imobiliária em São Paulo (antecedido pelo curta O castelo, codirigido por Ramos). Às 20h de domingo será exibido pela primeira vez na capital gaúcha Garoto, mais nova produção de Júlio Bressane, que adapta o conto O assassino desinteressado Bill Harrigan, de Jorge Luis Borges.